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Visconde de Ouro Preto

Afonso Celso de Assis Figueiredo (Visconde de Ouro Preto) Ministro do Império brasileiro

 

Em junho de 1889, ao apresentar-se o novo ministério na Câmara dos Deputados, o deputado padre João Manuel declarou-se republicano, e concluiu o seu discurso bradando: “Viva a República!”
Levantando-se, o Visconde de Ouro Preto retrucou energicamente:
— Viva a República, não! Não e não! Pois é sob a Monarquia que temos obtido a liberdade que os outros países nos invejam, e podemos mantê-la em amplitude suficiente para satisfazer as aspirações do povo mais brioso. Viva a Monarquia! Forma de governo que a imensa maioria da Nação abraça, e a única que pode fazer a sua felicidade e a sua grandeza.

*

Preso na noite de 15 para 16 de novembro, o Visconde de Ouro Preto foi conduzido ao quartel do 1º Regimento, onde adormeceu. Alta noite, entrou no compartimento um oficial, o tenente Menna Barreto, que lhe gritou:
— Acorde e prepare-se, que mais tarde tem de ser fuzilado.
Ouro Preto se pôs de pé e replicou:
— Só se acorda um homem para o fuzilar, e não para o avisar de que vai ser fuzilado. O senhor verá que, para saber morrer, não é preciso vestir farda!

*

Exilado em Lisboa, o Visconde de Ouro Preto participava de uma roda de várias pessoas, em visita a um comerciante rico. Um dos visitantes, que fizera fortuna no Brasil e voltara para Portugal, resolveu interpelar o Visconde, em tom de agrado:
— Hein, Sr. Visconde! O povo daqui tem mais fibra que o de lá. Não presenciaria bestificado a queda do regime, conforme a expressão de um ministro da República. Nem deixaria, sem reação, ser expelido um soberano como D. Pedro II, e uma sumidade como V. Exa.
Com veemência, o Visconde respondeu:
— O senhor não tem competência para julgar a gente da minha terra. É tão digna, altiva e capaz de bravura quanto a portuguesa. Pelo menos, lá não há quem deixe o Brasil para vir ganhar dinheiro em Portugal, e depois regresse ao Brasil a falar mal dos portugueses.
Depois destas palavras, houve um longo silêncio. Então o Visconde ergueu-se, acrescentando:
— Já que ninguém mais protesta contra a injustiça feita a meu País, retiro-me como um novo protesto.

(LEON BEAUGESTE – Fatos do Brasil Império)

 

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