
A História dá exemplo de vários reis e rainhas que, enquanto tais, tiveram uma atuação e um comportamento muito a desejar, tanto por seus erros como por suas omissões, tanto na esfera política como no campo moral.
Tais governantes, entretanto, confrontados com uma situação de infortúnio, que para eles se configurava como a condenação à morte violenta, souberam encará-la com serenidade e espírito de fé, transformando o cadafalso em que subiram no pedestal de sua própria grandeza.
Desses exemplos históricos, escolhemos o de duas rainhas, que parecem ser dos mais significativos: Maria Stuart e Maria Antonieta.
Maria Stuart (1542-1587) foi rainha de França, enquanto esposa de Francisco II, de 1558 a 1560. Com a morte prematura do jovem e debilitado rei, voltou ela à Escócia para ocupar o trono de seu país natal, a que tinha direito como única filha legítima do finado rei Jaime V.
Entretanto, seu comportamento como rainha da Escócia, especialmente do ponto de vista moral, foi bastante reprovável. Não só introduziu na corte escocesa os divertimentos renascentistas vigentes na corte francesa, como se tornou conivente com uma conspiração que eliminou seu segundo marido, Lord Henry Darnley, para poder casar-se com seu favorito, o Conde Bothwell, cabeça da referida conspiração. Este fato provocou um levante contra ela, obrigando-a a fugir do país. Imprudentemente, pediu asilo à sua acérrima e mal disfarçada inimiga Elizabeth I, da Inglaterra, que a conservou prisioneira por quase 20 anos, terminando por mandá-la executar a pretexto de seu suposto envolvimento numa conspiração que se destinava a matar a soberana inglesa.
Diante da morte, Maria Stuart conservou uma fidelidade total à sua fé católica, da qual nunca se afastou, mesmo em seus piores momentos, e fez questão absoluta de morrer como católica, recusando todos os ministros hereges que lhe eram oferecidos. A maneira como se portou diante do infortúnio lhe conferiu o halo de grandeza com que seu nome aparece na História.

Sobre a transformação sofrida por Maria Antonieta (1755-1793) diante do infortúnio, assim se exprimiu o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Em pleno desabamento do edifício político e social da monarquia dos Bourbons, quando todos sentiam o solo ruir sob os pés, a alegre arquiduquesa d’Áustria, a jovial rainha de França, cujo porte elegante lembrava uma estatueta de Sèvres, e cujo riso tinha os encantos de uma felicidade sem nuvens, bebia, com dignidade, com sobranceria e com resignação cristã admiráveis, os goles amargos da imensa taça de fel com que resolvera glorificá-la a Divina Providência.
“Há certas almas que só são grandes quando sobre elas sopram as rajadas do infortúnio. Maria Antonieta, que foi fútil como princesa e imperdoavelmente leviana na sua vida de rainha, perante o vagalhão de sangue e miséria que inundou a França, transformou-se de modo surpreendente. O historiador verifica, tomado de respeito, que da rainha surgiu uma mártir, da boneca uma heroína…”
(Revista Catolicismo, n° 463, Julho de 1989).