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A missão providencial do Brasil

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Victor_Meirelles_-_Combate_Naval_de_Riachuelo_(2ª_versão)

BATALHA DE RIACHUELO – Victor Meireles

 

Se analisarmos as origens psicológicas e morais de nossa Pátria, vemos que, de Portugal herdamos a bondade, a valentia e um certo senso prático que não descola da realidade. Dos negros recebemos uma apetência para o colorido, o maravilhoso. Dos índios, a esperteza. O resultado: um espírito brasileiro extremamente variegado, sutil, com facilidade para fazer correlações entre as coisas e grande senso do universal.

Uma senhora paulista que conheci, de tradicional família de quatrocentos anos, exprimiu certa vez o ideal de vida dela, mas que era, no fundo, o ideal de vida do brasileiro. Dizia ela para seu filho: “A vida, meu filho, é estar juntos, olhar-se e querer-se bem”.

Essa senhora não era uma filósofa, nem possuía estudos teológicos. Tinha apenas a formação católica e a cultura próprias de uma senhora de boa família de São Paulo, do fim do século passado, acrescidas de profundo senso católico. E desse entranhado senso católico aflorou algo maravilhoso, que foi a explicitação daquilo pelo qual o brasileiro reflete um aspecto de Deus: um certo tipo de bondade e benevolência, expressão, das mais elevadas, da virtude da caridade.

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Nosso povo recebeu de Deus um território de dimensões continentais. Herdamos recursos, não só no campo agrícola, mas também de natureza mineral, praticamente inesgotáveis. Temos as maiores reservas de ferro do mundo e reservas de ouro ainda desconhecidas; somos ademais um dos maiores produtores de pedras preciosas.

Temos sobretudo qualidades de alma imensas. Dentre elas, a facilidade em admirar os valores dos outros povos, compreendê-los, e com isso ajudá-los na solução dos seus problemas.

O brasileiro é dadivoso por natureza, à semelhança de Deus, que criou o universo por pura generosidade.

O brasileiro tem, entretanto, ao lado dessa bondade, um senso de justiça muito grande. Quando essa bondade é rejeitada, quando a ordem das coisas é perturbada, primeiro ele procura afastar as dificuldades por bem. Dizem que, no Brasil, se dá um boi para não entrar numa briga e uma boiada para não sair dela. Isso é muito verdadeiro, e está muito afim com a vocação de nossa Pátria. Quando a bondade não é aceita, então o brasileiro vai até o fim para extirpar o mal que provocou aquela desordem. Nós vimos isso, por exemplo, na guerra do Paraguai.

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O que significa isso para o futuro? Significa que o Brasil, voltando às suas origens cristãs, restabelecendo a plenitude da observância da Religião Católica, restaurando a vigência da Lei Natural e, com ela, a ordem orgânica, hierárquica, monárquica e católica, poderá tornar-se –– e deverá tornar-se ––, sob o signo da Cruz, uma das maiores potências da Terra.

Potência não só do ponto de vista da riqueza e do poderio militar, mas principalmente do ponto de vista da influência e da bondade, no universo. Deve fazer brilhar, na sua plenitude, aquela bondade, aquele senso de estar juntos, olhar-se e querer-se bem, no mundo inteiro. E fazer com que todos os povos vejam no Brasil esse ideal, e o imitem, e que haja uma grande harmonia entre as nações, uma grande paz, um grande bem-estar em todo o mundo.

Tal é a vocação principal do Brasil.

Nossa índole é feita para isso. O que nos falta é retornar à Religião de nossos pais, restabelecer a moralidade, a sociedade orgânica; é fazer com que cada brasileiro e cada família, cada corporação, município, província, região, cada Estado enfim, tenha toda a plenitude de personalidade que lhe é própria, e desenvolva suas potencialidades dentro de uma sociedade orgânica.

Parece-me muito oportuno citar, a propósito das considerações acima, as palavras pronunciadas pelo grande líder e pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira, no Congresso Eucarístico de 1942:

“A missão providencial do Brasil consiste em crescer dentro de suas próprias fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilização genuinamente católica, apostólica e romana, e em iluminar amorosamente todo o mundo com o facho dessa grande luz que será verdadeiramente o Lumen Christi que a Igreja irradia”.

É para isso, para obter graças para tal luta, com vistas a essa grande conquista, que eu apelo a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.

 

(Revista “Catolicismo” – dezembro/1992)

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