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Às elites cabe uma missão a favor do bem comum

Às elites, tão diretamente decorrentes da ordem natural que produziram as desigualdades inevitáveis, cabe-lhes uma missão a favor do bem comum. Pois, se existem, devem estar dispostas ao sacrifício que essa tarefa exige, e ao aprimoramento que o perfeito cumprimento desta tarefa impõe. Seria absurdo imaginar que a ordem natural das coisas criadas por Deus tivesse por únicos beneficiários os gozadores empenhados tão-só em utilizar, para seu exclusivo proveito, bens cuja carência tenderia a criar uma desdita e uma miséria universais.

De outro lado, se o progresso e a assim chamada evolução constituem marchas em ascensão, essas só podem realizar-se com os sacrifícios que as ascensões exigem, quer na ordem dos bens da alma, quer nos do corpo. E o mover ascensionalmente toda a humanidade não se concebe sem um doloroso esforço, ao qual grande parte – a maior parte – dos homens é mais ou menos infensa. É preciso que esse imenso esforço ascensional conjunto seja realizado em escala nacional como em escala regional, ou ainda simplesmente em escala familiar ou individual, por indivíduos ou corpúsculos especialmente bem dotados na ordem da natureza e da graça. É preciso que esses macrocorpos, corpos, corpúsculos ou simplesmente indivíduos desejem intensamente o próprio melhoramento, bem como o melhoramento de tudo quanto os rodeia, de sorte que eles sejam as grandes forças propulsoras do aprimoramento individual como do progresso social. Em uma palavra, eles são o fermento, e os restantes são a massa. Imaginar que o fermento é o adversário da massa porque se distingue dela, porque caminha mais depressa no sentido ascensional, porque eleva aquilo em que atua, em suma, porque lhe serve como que de propulsor e de estímulo; imaginar que a massa sofre ao se ver assim superada e elevada, isso é combater o progresso, desfibrar a evolução, paralisar a vida, impor a todos os homens os tormentos do tédio, do ócio, da inutilidade.

Monumento ao descobridor do Brasil em Santarem, Portugal

Essas reflexões se apóiam no ensinamento do Divino Mestre, quando, para fazer compreender aos homens a missão preponderante do clero na Igreja, lhes disse: “Vós sois o sal da terra. E se o sal perder a sua força, com que se salgará? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens. Vós sois a luz do mundo: não pode esconder-se uma cidade situada sobre um monte; nem acendem uma lucerna, e a põem debaixo de um alqueire, mas sobre o candeeiro, a fim de que ele dê luz a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles vejam as vossas boas obras, e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5, 13-16).

Os que sonham com a existência, na ordem temporal, de homens de escol que não iluminem nem salguem, e que por isso mesmo não deixem ver sua superioridade e colaborem necessariamente com a inércia, fazem o jogo das trevas e não o da luz.

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