Vaso de porcelana de Sèvres – Exemplo de qualidade nascida da Cultura (foto: P. poschadel)
Número é uma palavra que supõe a noção de quantidade. Bem distinta desta é a noção de qualidade. O culto do número é o estabelecimento de uma ordem de coisas na qual a quantidade seja critério supremo. Evidentemente, tal ordem de coisas é profundamente distinta de outra em que se colocasse no devido realce o fator “qualidade”. Na concepção revolucionária, essencialmente igualitária, o fator qualidade é necessariamente prejudicado em favor da quantidade. Pois se todos são iguais devem ter a mesma cultura, a mesma educação, o mesmo padrão de vida, a mesma influência, o mesmo prestígio. E isto conduz forçosamente à idéia de dar mais valor a alfabetização do que à formação de elites; de tornar mais abundante a produção em lugar de a tornar também melhor; de padronizar e estandardizar tudo, segundo as conveniências do tipo abstrato de homem, ao qual todos se devem nivelar, não lhes sendo lícito ficar aquém ou além do modelo oficial.
Para um Estado mecânico, em que toda a atividade se faz exclusivamente sob o impulso das leis, portarias, circulares ministeriais e regulamentos, para uma sociedade composta de homens anônimos e iguais perdidos na massa, o que é cada homem senão um número? E para cada unidade humana, do que se necessita senão das unidades de cultura, de alimentação, de alojamento necessários para que possam prolongar a existência e multiplicar a descendência?
A quantidade é o ideal natural, o único objetivo atingível para o Estado mecânico. Muito diverso é o problema visto do ângulo da qualidade, pois esta só pode nascer da formação das elites de berço e de cultura, da apuração das potencialidades de alma existentes em medida tão desigual entre os homens, e da livre projeção destas desigualdades por todo o corpo social, bem entendido nos limites em que o permitem a justiça e a caridade ensinadas pela própria doutrina da Igreja.
(Plinio Corrêa de Oliveira – Revista Catolicismo – Setembro de 1951)
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