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Cartas de Dona Leopoldina no ano da Independência do Brasil

Maria_Leopoldina_regent

Carta a Francisco I

São Cristóvão, 7 de março de 1822

Querido papai!

Embora seja muito penoso para mim escrever, já que espero o nascimento para qualquer momento, considero meu dever mais sagrado lhe dar notícias minhas, uma vez que conheço bem demais seu coração paternal para ter certeza de que minhas linhas têm algum interesse para o senhor. Aqui reina um verdadeiro caos de idéias e cenas, tudo surgido do logro chamado espírito de liberdade, e nas províncias do Norte agora estão assassinando todos os europeus; Deus (que dispõe tudo para o bem do homem) permita que a situação fique calma, como quer me parecer; meu esposo declarou que ficará aqui; embora pensemos diferentemente em alguns aspectos, é melhor que me cale e observe silenciosamente. Beijo-lhe as mãos inúmeras vezes, assim como as da querida mamãe, e permaneço sempre com fervorosíssimo amor filial e respeito, caríssimo papai, sua filha mui obediente.

Leopoldina

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Carta a D. Pedro I

São Cristóvão, 28 de agosto de 1822

Meu querido e muito amado esposo

Perdoe mil vezes que eu ralhei na minha última carta, mas deve ser-lhe prova de amizade de ser muito triste de ter me deixado faltar notícias suas; agora estou contentíssima com suas regras de Lorena; não é preciso recomendar-me as suas qualidades; seja persuadido, depois de dar-me tantas provas de confiança antes perder tudo que faltar aos meus deveres e bem do Brasil; os papéis se vão imprimir na Gazeta.

Sinto muito dar-lhe notícias desagradáveis, mas não quero faltar à verdade, mesmo se é penoso a meu coração; a tropa de Lisboa entrou na Bahia, e dizem que desembarcou; a nossa esquadra não se sabe o que fez, se é falta de ânimo dela é preciso o mais rigoroso castigo, chegarão três navios de Lisboa, os quais dão notícias de que os abomináveis portugueses querem sua ida para lá mesmo se voltasse ao Brasil outra vez, e que ia ao poder executivo a decidir se deve vir mais tropa para cá, é certo que aprontem a toda pressa dois navios; ontem deram a falsa notícia que estava uma esquadra de Lisboa fora da Barra de modo que todo se aprontou para recebê-la com fogo e bala.

O Abregé106 tem tido uma questão com o Martim Francisco107, o último deve [ter] toda a razão, e o primeiro tem sido muito atrevido, de modo que era preciso eu o fazer calar; eu lhe escrevo isto porque penso que lhe representaram em baixo de outro modo falso.

Deram um tiro no autor do Diário108, e o General Usley na qual diz irão que haviam de dar outro no amigo José Bonifácio; a Polícia já anda vigiando este negócio.

Mandou-se dar castigo ao autor do Correio que estas três últimas vezes tem sido o mais que possível.

Chegou um certo Veríssimo109, dizendo que foi nomeado Encarregado dos Negócios dos Estados Unidos pelo Congresso de Lisboa; ele vem falar-me e o José Bonifácio me disse de eu ver se podia tirar-lhe alguma coisa pois soube que saiu mandado pelas Cortes, três meses faz de Lisboa, desembarcou na América inglesa, tratando de negócios deles, e por ordem dos mesmos veio para cá até mais ordenar, é muito mau sujeito, e espertíssimo, de modo que anda sempre em companhia de espias nossos.

O povo e muitos outros falam no por os esquadrões da cavalaria a pé com muito atrevimento e barulho crê que era bom deixar este negócio em esquecimento. O José Bonifácio mais lhe falará.

Recebo neste instante sua carta de Taubaté que muito lhe agradeço em lhe merecer a amizade que me prova sendo certamente todo meu ser, não falando das muitas saudades suas que eu tenho, pedindo-lhe que não fique mais ausente que um mês; o José Bonifácio lhe dirá o mesmo; a sua presença é muito preciso sendo São Paulo muito longe para dar prontas.

Receba mil abraços e as expressões do mais terno amor e amizade desta sua esposa que o ama ao extremo

Leopoldina

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