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Há 120 anos nascia o Cardeal Mindszenty

Cardeal Mindzenty, Primaz da Hungria, Principe de Esztergon, Simbolo da resistência ao Comunismo.

A 29 de março de 1892, nascia em Csehimindsent (Áustria-Hungria) o inesquecível Cardeal József Mindszenty. Através de comunicado do Serviço de Imprensa da TFP brasileira, assim se manifestava Plinio Corrêa de Oliveira: “Todos os que conservam o senso da honra e da dignidade, e repudiam como uma covardia a flexão sistemática diante de um adversário agressor, tiveram nos feitos que a História Contemporânea atribui ao Cardeal Jószef Mindszenty um exemplo assinalado. (…) [Ele], ontem falecido em Viena, constitui para os católicos verdadeiros um título de ufania do qual jamais se olvidarão” (cfr. Doc. de 7-5-1975).
Assim sendo, aqui prestamos nossa homenagem, no presente mês em que se comemora seu 120° aniversário de nascimento, focalizando alguns dos documentos relativos à “figura impávida do imortal Purpurado”.
Em 1991 seu corpo foi exumado e encontrado incorrupto, após 16 anos de sua morte. Em 1996 a documentação para o processo de sua beatificação foi apresentada à Congregação para a Causa dos Santos. http://www.pliniocorreadeoliveira.info

 

Cardeal Mindszenty: uma recordação pessoal

 

Julio Loredo

Conheci o Cardeal Minddszenty em 1975, poucas semanas antes de seu repentino falecimento.

Estava em Bogotá, como voluntário da TFP. Sua Eminência tinha vindo para visitar a pequena, mas dinâmica colônia húngara. “Meus súditos”, como ele os chamava em referimento ao fato de que, segundo a antiga tradição do Reino, em caso de vagar o trono do país, o Arcebispo de Ezstergom e Primaz da Hungria tornava-se ipso facto Regente.

Cidade hungara de Esztergom

De fato, nos vários encontros íntimos com sua gente – para os quais tive a honra de ser convidado – notei que tributavam a ele honras do antigo protocolo da Corte.

Acolhido de modo oficial na sala VIP do aeroporto El Dorado, pelo Arcebispo de Bogotá e pela autoridade civil, enquanto pipocavam os flashs das câmaras fotográficas de jornalistas, o prelado húngaro teve um daqueles gestos de audácia que o caracterizavam: desvencilhou-se com força do esquema de segurança e das autoridades e correu até um amplo balcão para exortar a multidão que o aclamava no grande lobby. “Vim aqui para vós – disse em língua húngara – Vim para trazer-vos coragem porque vós soubestes resistir. A Hungria vive! Não esqueçais!

Depois disto, afastando-se da balaustrada, dirigiu-se a um grupo de 50 membros da TFP que, com suas capas vermelhas e estandartes, o aclamavam. Ali deu uma bênção solene.

Nos dias seguintes, Sua Eminência ficou hospedado no Colégio húngaro, onde recebeu em audiência diversos grupos de co-nacionais. Junto com outros colegas da TFP, tive a honra de participar a três desses encontros.

József Mindszenty era um tanto baixo de estatura, carnatura azeitonada e olhos que, de acordo com a expressão do rosto, ora se abriam desmedidamente, ora se estreitavam a ponto de fazê-lo parecer um oriental. Eram, entretanto, muito vivazes.

O prelado aceitara o convite do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira de visitar o Brasil

Consciente de sua dignidade, mantinha sempre uma atitude reservada mas sempre benévola, quase diria de doçura. Sua fisionomia sempre composta e serena revelava, entretanto, grande sofrimento.

Por vezes, um pequeno gesto deixava transparecer alguma seqüela deixada no seu sistema nervoso, remanescente das terríveis torturas que sofrera nos cárceres comunistas.

Acompanhado de seu secretário particular e de um assistente designado pelo Vaticano, o prelado falava pausadamente, sempre em húngaro ou latim, medindo cada palavra e evitando com cuidado os temas muito candentes.

No terceiro encontro, entretanto, pudemos encontrá-lo privadamente. Parecia outra pessoa! Falando em francês e dando-nos palmadas amistosas nos ombros disse com entusiasmo de um menino: “Eu vos conheço muito bem! Avante filhos meus!

Aproveitamos para entregar-lhe uma carta do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira que o convidava a vir a São Paulo, convite que ele aceitou de muito boa vontade.

Foi então que pode exprimir-se com mais liberdade a respeito da Ostpolitik vaticana, isto é, a política de distensão com os governos comunistas do Leste europeu. Os melhores católicos – dizia – claramente são aqueles que se opõem ao Comunismo em nome da Fé. Ver as altas autoridades do País jurar fidelidade ao governo comunista, lhes produz não apenas uma grande dor mas um profundo sentimento de abandono e orfandade.

 

Memorial ao Cardeal Arcebispo em sua cidade natal

O objetivo de sua viagem, de caráter nitidamente pastoral, era de mostrar aos húngaros que a chama da esperança ainda raiava.

No último dia, as autoridades aeroportuárias nos permitiram de acompanhar o Cardeal até o pé da escada do avião que ele subiu com passo vivo. À porta, ele girou-se e dirigiu-se a nós abanando a mão e dizendo em alta voz, num misto de francês com português: “Jusqu’a São Paulo!”  Em seguida, nos abençoou solenemente. Em torno a nós os húngaros, ajoelhados na pista soluçavam exclamando entre lágrimas: “Nosso Rei vai embora! Nosso Rei vai embora”

A porta fechou-se e a segurança ordenou que nos afastássemos para permitir a manobra da aeronave. Em breve o avião se perdeu da nossa vista entre as nuvens.

Poucas semanas depois, a notícia inesperada: Sua Eminência, o Cardeal Jószef Mindszenty, Arcebispo de Esztergom, Primaz da Hungria e Regente do Reino Apostólico, falecia durante uma intervenção cirúrgica.

(Traduzido ao português da revista italiana TRADIZIONE, FAMIGLIA E PROPRIETÀ – março de 2012)

 

 

 

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