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Plinio Corrêa de Oliveira

Ambientes Costumes Civilizações

O gênero de beleza evoluiu do tempo de Luís XIV para o de Luís XV. Enquanto a nota do raffiné de Luís XIV era o imponente, na época de Luís XV o raffiné é o gracioso. Um esplêndido gracioso, mas é um valor menor que o imponente.

Nesta sala do castelo de Fontainebleau(*) notem as formas arredondadas em tudo. Entretanto, os ângulos retos exprimem muito mais a força do que o arredondado, o qual exprime o jeito, a conciliação, o sorriso.

Por outro lado, as cores se tornam mais delicadas. O ar triunfal, que manifestavam as salas de Luís XIV, desapareceu. Não é uma sala para um Rei vencedor do mundo — como Luís XIV pretendia ser, e em certa medida o foi —, mas para um Rei que leva uma vida gostosa e, nas horas vagas, realiza uma reunião de seu Conselho.

Desta sala não resulta a conquista do universo nem a prevenção da Revolução.(**) O ambiente é otimista, de quem não deseja ver o processo revolucionário se formando e adensando. Considerado sob o prisma do maravilhoso, ela o exprime com uma nota de gracioso. Neste sentido, o faz magnificamente. A linha da feeria está inteiramente afirmada. Dir-se-ia que, de algum modo, ela é até mais refinada que os salões de Luís XIV.

Dentro desse gracioso há qualquer coisa de tristonho. Não está presente aquela alegria matinal dos ambientes de Luís XIV. É uma beleza e um gracioso crepuscular, mas com todos os encantos do crepúsculo.

Numa monarquia com uma rainha regente, esta sala estaria adequada — mas não para uma rainha da têmpera de uma Branca de Castela. O ambiente, em todo o seu maravilhoso, poderia servir para lazer num palácio real. Mesmo assim, há algo de perigoso, porque ficando muito tempo aqui, não se tem vontade de passar para outros salões. Ela contém qualquer coisa do anestésico do otimismo, na linha da cançãozinha “Tout va très bien, Madame la Marquise”.

Ambientes Costumes Civilizações

(*) O Castelo de Fontainebleau, na França, foi construído no século XVI pelos monarcas da dinastia de Valois. Quando ela se extinguiu, passou para a dinastia dos Bourbons. Foi ininterruptamente residência real até a Revolução Francesa. Napoleão I e Napoleão III também habitaram o castelo. Depois de Versailles, Fontainebleau é o mais importante dos castelos franceses.

(**) As palavras “Revolução” e “revolucionário” são aqui empregadas no sentido que lhes atribui Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro Revolução e Contra-Revolução, publicado primeiramente em Catolicismo, nº 100, abril/1959.

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 31 de outubro de 1966. Sem revisão do autor.

 

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Ambientes Costumes Civilizações

O gênero de beleza evoluiu do tempo de Luís XIV para o de Luís XV. Enquanto a nota do raffiné de Luís XIV era o imponente, na época de Luís XV o raffiné é o gracioso. Um esplêndido gracioso, mas é um valor menor que o imponente.

Nesta sala do castelo de Fontainebleau(*) notem as formas arredondadas em tudo. Entretanto, os ângulos retos exprimem muito mais a força do que o arredondado, o qual exprime o jeito, a conciliação, o sorriso.

Por outro lado, as cores se tornam mais delicadas. O ar triunfal, que manifestavam as salas de Luís XIV, desapareceu. Não é uma sala para um Rei vencedor do mundo — como Luís XIV pretendia ser, e em certa medida o foi —, mas para um Rei que leva uma vida gostosa e, nas horas vagas, realiza uma reunião de seu Conselho.

Desta sala não resulta a conquista do universo nem a prevenção da Revolução.(**) O ambiente é otimista, de quem não deseja ver o processo revolucionário se formando e adensando. Considerado sob o prisma do maravilhoso, ela o exprime com uma nota de gracioso. Neste sentido, o faz magnificamente. A linha da feeria está inteiramente afirmada. Dir-se-ia que, de algum modo, ela é até mais refinada que os salões de Luís XIV.

Dentro desse gracioso há qualquer coisa de tristonho. Não está presente aquela alegria matinal dos ambientes de Luís XIV. É uma beleza e um gracioso crepuscular, mas com todos os encantos do crepúsculo.

Numa monarquia com uma rainha regente, esta sala estaria adequada — mas não para uma rainha da têmpera de uma Branca de Castela. O ambiente, em todo o seu maravilhoso, poderia servir para lazer num palácio real. Mesmo assim, há algo de perigoso, porque ficando muito tempo aqui, não se tem vontade de passar para outros salões. Ela contém qualquer coisa do anestésico do otimismo, na linha da cançãozinha “Tout va très bien, Madame la Marquise”.

Ambientes Costumes Civilizações

(*) O Castelo de Fontainebleau, na França, foi construído no século XVI pelos monarcas da dinastia de Valois. Quando ela se extinguiu, passou para a dinastia dos Bourbons. Foi ininterruptamente residência real até a Revolução Francesa. Napoleão I e Napoleão III também habitaram o castelo. Depois de Versailles, Fontainebleau é o mais importante dos castelos franceses.

(**) As palavras “Revolução” e “revolucionário” são aqui empregadas no sentido que lhes atribui Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro Revolução e Contra-Revolução, publicado primeiramente em Catolicismo, nº 100, abril/1959.

_______

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 31 de outubro de 1966. Sem revisão do autor.

 

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Num famoso livro de “Orações do Duque de Berry” é representado o castelo francês de Saumur, sobre o rio Loire.

Infelizmente ele foi arrasado nas guerras de religião movidas pelos protestantes calvinistas.

Acabou em ruínas esquecido no período que medeia o fim da Idade Média e passando pela Revolução Francesa chega até nossos dias.

Em décadas recentes, Saumur foi objeto de uma restauração, mas que até agora não conseguiu atingir o nível que teve durante a Idade Média.

É um dos mais belos da Idade Média e um daqueles em que a alma da Idade Média melhor se exprime e melhor se representa.

Saumur foi símbolo de uma época, e de um estilo de viver que associava em feliz consórcio nobres e camponeses, ricos e pobres, todos eles profundamente católicos.

Nele aconteceu um famoso festim oferecido por um rei santo: São Luís IX.

O banquete de Saumur

Em 1237, quando São Luís era um rei muito novo investiu seu irmão Afonso como conde de Poitiers, um riquíssimo, brilhante e populoso feudo.

Lá germinava, infelizmente, um ninho de revoltas da nobreza local!

Atiçados pelo rei Henrique III, da Inglaterra, que sonhava ser rei da França, os senhores feudais não cessavam de fazer intrigas.

Já germinava a discórdia que desfecharia na guerra dos Cem Anos.

Os intrigantes haviam motejado o jovem monarca como “rei dos monges”, como “devoto” incapaz de defender sua herança.

Esta iluminura posterior nos dá uma certa ideia do banquete real
Esta iluminura posterior nos dá uma certa ideia do banquete real

São Luís IX quis conferir à investidura do irmão um caráter oficial e solene. As festas incluíram um famoso banquete em Saumur e foram descritas por Joinville, autor de uma inigualável biografia do rei santo e espécie de primeiro-ministro do conde de Champagne, um dos mais poderosos, ricos e autônomos senhores da França.

— “O rei reuniu uma grande Corte em Anjou. Eu estava lá e dou testemunho que foi a melhor ordenada que já vi”.

E após descrever os grandes homens do reino sentados à mesa em suas brilhantes roupagens, prossegue:

“Atrás deles havia bem aproximadamente 30 cavaleiros vestidos com túnicas de seda que os protegiam. E, por trás dos cavaleiros, um grande número de lacaios com as armas do conde de Poitiers bordadas sobre tafetá.

“O rei estava vestido com uma túnica de seda bordada de cor azul, tendo por cima um manto de seda vermelha bordada e forrada de arminho, com um chapéu de algodão sobre a cabeça, o qual, aliás, não lhe ficava muito mal!!!, porque ele era jovem”.

Assim se apresentou o terceiro franciscano que ia descalço nas procissões, pois assim o exigiam o bem da ordem política e social, a harmonia da ordem cristã, a vocação e o cargo que Deus lhe deu.

Mas, por detrás da deslumbrante festa crepitava o drama.

Com as cerimônias, São Luís quis patentear seu poder supremo sobre o feudo. Mas os insubordinados senhores locais interpretaram-na como provocação e tiraram pretexto para revolta.

Na vitória de Taillebourg, São Luís se afirmou como rei inconteste da França
Com a vitória de Taillebourg, São Luís se afirmou como rei inconteste da França.
Eugène Delacroix, Museu de Versailles

O chefe dos dissidentes era Hugues de Lusignan, conde de la Marche, que a exemplo de Iscariote à mesa com Jesus na Última Ceia, estava sentado à mesa do rei. E seu suserano era o rei da Inglaterra, Henrique III.

A murmuração correu como rastilho de pólvora: São Luís queria usurpar os direitos do rei inglês. A prova? O festim e a nomeação de seu irmão como conde de Poitou!

Louco de raiva, Hugues de Lusignan abandonou Saumur às pressas, prometeu repudiar a vassalagem ao rei da França e montou uma liga militar contra a Coroa.

O rei da Inglaterra garantiu-lhe tropas que viriam por mar. Os amotinados aguardavam reforços da Espanha e o ataque do imperador alemão, que surpreenderia o rei francês pelas costas.

São Luís não se descuidou: estava perfeitamente informado dos planos, tratativas e reuniões secretas dos adversários. E antes de as tropas inglesas desembarcarem, empreendeu a ofensiva!

Os castelos de Hugues de Lusignan capitularam um após outro. E quando o rei inglês pôs o pé em terra com seu exército, era tarde demais. Ele, porém, ousou enfrentar o “rei devoto”.

O choque se deu em Taillebourg, em 1242, batalha completada em Saintes. A carga de cavalaria conduzida pelo santo sobre um soberbo cavalo branco decidiu a batalha e mudou os rumos da Europa feudal.

Saumur se espelha majestosamente nas águas do rio Loire.
Saumur se espelha majestosamente
nas águas do rio Loire.

“Luís — narra o historiador Henri Pourrat (Les Saints de France, Editions Contemporaines Boivin, 1951.) —, à testa de somente oito homens de armas, lançou-se sobre a ponte de Chernete e sustentou o embate de mil ingleses, até o momento em que sua gente chegou, entusiasmada com o feito do rei”.

Séculos depois, o pintor Delacroix imortalizou a façanha. Pouco faltou para o rei inglês cair prisioneiro. A partir de Taillebourg, a Europa ficou sabendo que esse rei dos monges manejava a espada com implacável maestria.

Esplêndido vencedor, São Luís manifestou magnanimidade, inteligência, tato político e visão histórica que impressionaram a Europa feudal.

Seus conselheiros quiseram convencê-lo a despojar os vencidos. O santo reafirmou que isso estava no seu direito, mas não pediu senão aquilo que julgou politicamente inteligente.

Ao rei inglês derrotado cedeu as regiões francesas de Limousin, Périgord, Agenais, Saintonge e parte de Quercy, com a condição de tornar-se seu vassalo mediante o sagrado juramento de vassalagem. Luís IX quis firmar os laços de amor entre os filhos de ambas as coroas.

O rei da Inglaterra passou a lhe prestar as homenagens de um subordinado. Assim fazendo, a Guerra dos Cem Anos ficou adiada de um século.

Ao conde Hugues de Lusignan, chefe dos revoltosos, o rei perdoou um terço dos bens. Retirando-se para suas terras, morreu de desgosto.

Era num contexto de palácio como o de Saumur que giravam os grandes assuntos dos países.

Nos castelos evoluíam almas boas e más. Mas prevaleciam as boas, como São Luís, e eles imprimiam o estilo dos castelos.

Hoje, os personagens públicos são outros e os locais de governo são bem diversos. Sem dúvida neles há maus. Há bons?

Uma coisa é certa os prédios de governo que eles constroem muitas vezes são chatos ou medonhos e, se tem histórias para nos contar, podem ser banais ou sórdidas.

 

(http://castelosmedievais.blogspot.com.br/2015/09/saumur-o-banquete-que-passou-para.html)

 

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fazenda

 

 

Até há bem pouco tempo, o fazendeiro era objeto da consideração e da estima indiscutida de todas as camadas sociais do País. Sua figura, como ela se delineou nas primeiras décadas deste século, é bem conhecida de todos.
Senhor de terras adquiridas pelo trabalho árduo e honrado ou por uma legítima sucessão hereditária, não se contentava em tirar delas, preguiçosamente, o estrito necessário para sua subsistência e a dos seus. Pelo contrário, movido por um nobre anseio de crescente bem-estar e ascensão cultural, aspirava ele ao pleno aproveitamento da fonte de riqueza que tinha em mãos. Para isto, franqueava suas terras largamente às famílias de trabalhadores braçais que, vindos de todos os quadrantes do Brasil e das mais variadas regiões do mundo, procuravam no campo as condições de uma existência honesta e segura. Dedicado de sol a sol à direção da faina rural, o proprietário, associado assim aos trabalhadores braçais na tarefa de tirar do solo recursos de que um e outros iam viver, era verdadeiramente o “pater”, o “patrão” de cujos bens e de cuja atuação todos recebiam alimento, teto, roupa e meios de poupança, na medida da situação e da cooperação de cada qual.
E, como as relações de trabalho, quando bem entendidas, não ficam só em seu âmbito mais restrito, mas naturalmente criam compreensão, estima e mútuo apoio nas várias necessidades da vida, a harmonia entre o fazendeiro e o colono criava, freqüentemente, o hábito de este se aconselhar com aquele, recebendo proteção e amparo nos mais diversos assuntos; como, de outro lado, gerava no trabalhador uma dedicação por vezes heróica a seu patrão. É este um dos mais típicos e luminosos elementos de nossa tradição em matéria de relações de trabalho.
A nítida consciência, na opinião pública, dessa íntima e profunda conjugação de esforços e de interesses, manteve-se por muito tempo em nosso País e, mercê de Deus, ainda em larga medida existe. Era e é um dos melhores títulos do fazendeiro à estima geral.
A história de nossas velhas estirpes de proprietários rurais vem de muito antes da época cujo quadro há pouco traçamos. É a história de uma ascensão. Nascida espontaneamente das profundezas da ordem natural das coisas, a propriedade agrícola deu origem entre nós a uma elite social que foi, de início, composta de desbravadores valentes e dinâmicos, a que sucederam gerações de agricultores fixados em suas glebas e postos em luta constante com a natureza bravia do sertão. Aos poucos, a rudeza da terra se foi atenuando, uma tradição agrícola sempre mais completa foi estabelecendo os métodos de trabalho, os sistemas de plantio e a rotina judiciosa e eficiente das atividades rurais. O agricultor ia, com isto, ficando menos absorvido pelas suas funções. Ao mesmo tempo, as cidades se iam multiplicando e as comunicações com o Velho Mundo se iam tornando mais seguras e rápidas. Firme na base econômica que seu trabalho e o de seus maiores lhe haviam formado, o fazendeiro sentia em si a consciência de que a simples posse de um patrimônio não basta para criar uma elite digna desse nome. Da tradição luso-brasileira, marcada a fundo pela influência cristã, herdara ele valores de alma inestimáveis, que cumpria polir e acrescer no convívio com os centros urbanos do Brasil e do Exterior.
Daí o aparecimento do agricultor meio citadino, no espírito e nas maneiras. Morava ele de bom grado, durante certa parte do ano, na cidade, e não raro frequentava a Corte e viajava para a Europa. Mas dedicava gostosamente a outra parte do ano à vida rural, no contato efetivo e natural com os homens e as coisas do campo.
Sem perder suas raízes na terra, essa elite crescia assim, gradualmente, em instrução, cultura e distinção de maneiras. Por esta forma ela se capacitava para – fiel embora a seu cunho agrícola – fornecer à Nação grande número de intelectuais, de comerciantes, de industriais, de estadistas, de homens e de damas de sociedade, que tanto valor e tanto realce deram à nossa vida política, cultural e social.
Enquanto o fazendeiro, assim transformado, ampliava seu raio de ação em benefício do País, por isto mesmo que não deixara de ser fazendeiro continuava contribuindo para nosso progresso agrícola. A área plantada, o número de famílias vivendo do trabalho na lavoura, o volume da produção e da exportação iam crescendo. E graças às riquezas assim acumuladas, firmava-se no exterior o nosso crédito, e as importações, sem perturbarem nossa balança comercial, iam pari passu avultando. Por esta forma o Brasil, outrora atrasado e sem recursos, se ia apetrechando e adornando com todos os produtos do mundo civilizado.
A lavoura era, por esta forma, a base da prosperidade nacional. O impulso que ela deu ao País se tornou notório ao mundo inteiro. Daí veio a reputação de terra da fartura que o Brasil começou a ter já desde os fins do século XIX. Éramos, com os Estados Unidos e a Argentina, a Canaã para a qual afluíam, cheias de esperança e de dinamismo, as multidões da Europa, do Oriente Próximo e do Extremo Oriente.

(REFORMA AGRÁRIA – QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA – Ed. Vera Cruz – SP – 1960)

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Minha vida pública

Fatos e documentos inéditos revelados em notas biográficas de Plinio Corrêa de Oliveira

• Livro revela a virulência da luta de bastidores travada no Brasil entre católicos tradicionalistas e católicos progressistas sob o pontificado de Pio XII

• O Papa estava a par da polêmica e interveio indiretamente, e mesmo diretamente, em abono às teses de Plinio Corrêa de Oliveira

Não será mais possível falar em TFP ou em Plinio Corrêa de Oliveira sem levar em conta o livro “Minha Vida Pública”, recentemente lançado pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira em São Paulo.
São mais de 800 páginas com a compilação de reuniões internas dadas por ele à TFP, trazendo à tona fatos e documentos nunca antes publicados, especialmente sobre as origens, no Brasil, do progressismo e do esquerdismo dito católico. O livro terá em breve uma edição nos Estados Unidos e na Inglaterra e já se pensa em uma edição na França e na Itália.
A título de exemplo, nesse livro encontramos a campanha surda que Plinio Corrêa de Oliveira e o grupo do Legionário tiveram de enfrentar já por volta de 1935, da parte de uma congregação religiosa secreta de freiras composta de moças da melhor sociedade de São Paulo. Essa congregação religiosa secreta havia sido fundada na Bélgica pelo Cardeal Mercier e chamava-se “Auxiliares do Apostolado”.
Essas moças foram arregimentadas em São Paulo por uma professora belga, Adèle de Loneux, que levou várias delas para uma reciclagem na Bélgica, e de lá chegaram intoxicadas da mentalidade progressista.
Plinio e o grupo do Legionário apelidaram essas moças intramuros de “as Construtivas”. E quando escreveu o livro “Em Defesa da Ação Católica”, teve muito em vista combater a mentalidade errada que elas, juntamente com outros próceres progressistas leigos, como Alceu Amoroso Lima (o Tristão de Athayde da literatura), que era o presidente nacional da Ação Católica, iam espalhando por todo o Brasil.
Essas “Construtivas” tinham o apoio do jovem Arcebispo D. José Gaspar de Affonseca e Silva, que por detrás as impulsionava. Foi ele, aliás, quem revelou a Plinio Corrêa de Oliveira a existência dessa congregação secreta.
Plinio Corrêa de Oliveira assim as descrevia: “Eram moças na sua quase totalidade ricas, das melhores famílias de São Paulo, inteligentes, capazes, sabendo dirigir muito bem as coisas, e que haviam recebido uma formação errada proveniente da Bélgica”.
A líder nata era Edith Junqueira Azevedo Marques, fundadora do Centro Social Leão XIII (na foto ao lado, junto ao então Cardeal-Arcebispo de São Paulo, D. Agnelo Rossi).
Elas estão na raiz do movimento progressista que se espalhou como vírus pelo Brasil através da Ação Católica e depois desaguou nas CEBs, na esquerda católica e na própria Teologia da Libertação.
*
Em suas notas autobiográficas, Plinio Corrêa de Oliveira conta a amizade que o ligava a Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde) antes da crise progressista:
“Alceu de Amoroso Lima tinha muitas relações comigo. Eu já tinha estado mais de uma vez em casa dele, e ele na minha. Dávamo-nos muito bem. Ele era o líder católico máximo do Brasil”.
Para surpresa de Plinio, foi desse amigo que recebeu a primeira ducha de água fria durante a Constituinte de 1933. Conta ele:
— “Quando eu chego ao Rio, sou convocado pelo Tristão de Athayde para uma reunião dos deputados católicos na sede do Centro Dom Vital […]. Diz o Alceu: — O Sr. Cardeal Leme resolveu que, primeiro, não vai haver uma bancada de deputados católicos. Os srs. devem estar dispersos nas bancadas dos respectivos Estados. Por causa disso, não vai haver líder católico. O líder católico dos deputados vou ser eu, do lado de fora da Câmara. Os srs. venham aqui receber as diretrizes do Cardeal Leme, por meu intermédio. […] Nenhum deputado católico deverá fazer discurso a respeito das reivindicações católicas. O Cardeal Leme faz questão que vocês não façam nenhum discurso nessa linha”. […] Por fim, ele acrescentou: — Ah! outra proibição: os senhores estão proibidos de contar que estão proibidos de falar”.
Mesmo assim, sua amizade com Tristão de Athayde só se rompeu quando este começou a derivar rumo ao progressismo e à esquerda católica.
Essa mudança de posição de seu antigo amigo acentuou-se muito com a vinda ao Brasil do professor Robert Garric, apresentado pela mídia como uma notabilidade francesa que vinha lançar em São Paulo as “Equipes Sociais”.
Comenta Plinio:
“Desde logo, essas Equipes Sociais foram promovidas por Tristão de Athayde. Foi ele quem impulsionou o Movimento Litúrgico, a Ação Católica e tudo aquilo que seria depois objeto de minha denúncia no livro “Em Defesa da Ação Católica”. No carteio de ruptura entre Tristão e eu a propósito desse livro, ele se eriçava, porque cada letra da obra era contrária às convicções e sobretudo ao programa dele”.
*
Plinio conta que, até então, sua luta dentro dos meios católicos visava o inimigo externo, especialmente o comunismo e o nazifascismo, na época em seu apogeu. Mas com a entrada da infiltração progressista na Igreja, seu alvo mudou:
“Esse espírito novo não pairava nas nuvens, como uma ideologia subtil e impalpável. […] Tinha chefes que o introduziram no Brasil, possuía uma ideologia muito precisa, tinha na Ação Católica um instrumento de difusão de primeira ordem, e era portanto uma verdadeira organização. Os seus propagadores eram fanáticos e dissimulados, viviam em estado de conjuração, e tinham a suprema arte de impugnar como agressivos aqueles mesmos que eles queriam agredir. Quando surgia uma polêmica sobre suas posições erradas, uma de suas táticas era tentar impedi-la sob o pretexto de paz e evitar de todos os modos que a questão subisse até a Santa Sé. Aos poucos, essa corrente foi dominando inteiramente a situação e acabou por destruir todos os óbices com que se defrontava. Estávamos com o inimigo dentro de casa e tínhamos que lhe fazer face, numa luta de natureza completamente diferente da que até então havíamos travado”.
*
Outros fatos inéditos são detalhados nessas notas autobiográficas, como a batalha que foi para Plinio a publicação do livro “Em Defesa da Ação Católica”, o papel que teve nessa publicação o sacerdote jesuíta Pe. Cesar Dainese, a tentativa de boicote da parte de D. José Gaspar de Affonseca e Silva, as intervenções do Núncio D. Aloisi Masella para que o livro saísse etc.
Também é detalhado o vendaval que soprou sobre Plinio com a designação de D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta para o Arcebispo de São Paulo, o qual moveu verdadeira perseguição contra o grupo do “Legionário”.
Ainda é narrada a batalha surda de bastidores, inclusive dentro do próprio Vaticano.
No livro revela documentos que mostram claramente que Pio XII estava acompanhando de perto a polêmica no Brasil, e tomou uma série de medidas que representaram a reabilitação do grupo do “Legionário”. A elevação ao episcopado D. Sigaud e de D. Mayer foi uma delas. Eles eram amigos de Plinio.
Pio XII ainda enviou a Plinio Corrêa de Oliveira uma carta de elogio ao livro, através de seu Subsecretário de Estado, Mons. João Baptista Montini, futuro Paulo VI. E lançou vários documentos pontifícios condenando os mesmos erros apontados no “Em Defesa da Ação Católica”.
Muito mais coisas inéditas vêm à luz nesse livro, escrito em linguagem amena e coloquial, o que o torna de fácil leitura.
É nossa intenção publicar alguns trechos escolhidos deste livro nesta página, para que vocês degustem
Quem quiser aprofundar a temática do livro, pode adquiri-lo na Livraria Petrus, pelo link
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Dom_Pedro_D'_Alcantara_Cannes_1890

Era corriqueiro vê-lo caminhar normalmente com seu amigo e médico Conde Mota Maia pelas ruas da Cidade como qualquer senhor de classe média da época.
“Estava eu e mui Mota Maia andando pela a rua ouvidor quando lembro em comprar um regalo para meu neto mais moço, escolhi o agrado e fui pagar à senhorita do balcão do estabelecimento comercial, quando lhe entreguei uma nota de réis ela ruborizou-se olhando para nota onde minha velha face estava ao centro da impressão, a jovem olhou para mim e desmaiou em seguida. Mota a examinou e brevemente acordou timidamente, começou a fazer reverências que eu nunca tinha assistido ou recebido. Depois do susto saímos à calçada, avistei flores, peguei um ramo vistoso, voltei à loja e entreguei a simpática senhorita. Hoje foi um dia bom, porém sempre fico reflexivo sobre tais momentos onde fica claro que meu povo ainda me enxerga como um Rei Medieval dos contos que lia quando infante, mas vi admiração e um belo sorriso no rosto belle enfant, foi compensador.”

(Diário de Pedro II, disponível na Biblioteca Nacional e cópias no Museu Imperial de Petrópolis).

 

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Kildare_White_Abbey_South_Transept_Rose_Window_Saint_Joseph_2013_09_04

(foto: Andreas F. Borchert)

SÃO JOSÉ, esposo puríssimo de Maria Santíssima e pai nutrício de Jesus Cristo, era de origem nobre, como testificam os evange­listas Mateus e Lucas. A genealogia de José remonta a David e de David aos Patriarcas do Antigo Testa­mento. Mais importante, porém, que a origem, é a virtude que tan­to enobrece a alma de S. José: a hu­mildade. Não sabemos onde o santo Patriarca nasceu; alguns opinam que era natural de Nazaré, na Galileia, onde trabalhava na ofici­na de carpinteiro; outros porém, acham mais provável que Belém te­nha sido a cidade natal de São José pois, Belém foi a cidade de David. A mãe de José era Estha. Não deve­mos estranhar a pobreza de José. Escolhido para ser o pai adotivo do Messias, convinha que comparti­lhasse a vida pobre deste. Nada sa­bemos a respeito da infância de S. José e nem tão pouco da vida que levou, até o casamento com Maria Santíssima. Os santos Evangelhos não nos dizem coisa alguma a esse respeito; limitam-se apenas a afirmar que José era justo, o que quer dizer: José era cumpridor da lei, homem santo.

Que a virtude e santidade de S. José foram extraordinárias, vemos pela grande e importante missão que Deus lhe confiou. Segundo a doutrina de São Tomás de Aquino, Deus confere as graças e privilégios à medida da dignidade e da eleva­ção do estado, a que destina o indi­víduo. Pode imaginar-se dignidade maior que a de S. José, que, pelos desígnios de Deus, devia ser esposo de Maria Santíssima e pai nutrício de seu divino Filho?

Parece fora de dúvida que os desposórios de Maria Santíssima com São José obedeceram a um plano extraordinário da Divina Providên­cia. Maria Santíssima, consentin­do no enlace com o santo descen­dente de David, não podia ter outra coisa em mira, senão uma garantia para o futuro, uma defesa de sua virtude e uma satisfação perante a sociedade, visto que no Antigo Tes­tamento não era conhecida, e mui­to menos considerada, a vida celi­batária. Celebrando o contrato matrimonial, Maria Santíssima certamente o fez com a garantia absoluta da pureza virginal, que por inspiração divina votara a Deus. São Jerônimo afirma que S. José conservou em toda a vida a virgin­dade. Ninguém pode estranhar o título de “Irmão de Jesus”, visto que os livros bíblicos empregam muitas vezes a palavra “Irmão” por “parente”. Abraão disse a Lot: “Não haja contenda entre nós, pois so­mos “Irmãos”. E Abrão não era irmão, mas tio de Lot.

Realizou-se a gran­diosa obra da Encar­nação do Verbo Uni­gênita de Deus. O Ar­canjo S. Gabriel sau­dou a Maria e comuni­cou-lhe o grande mis­tério, que nela se havia de realizar. Maria pronunciou o “fiat”, con­sentindo na materni­dade que se operaria nela pelo Espírito San­to, e deixou a São José em completa ignorân­cia. Com esse consenti­mento, dirigiu-se à ca­sa de S. Isabel, onde se demorou três meses e, de volta para casa, seu estado causou no espí­rito de José as mais graves preocupações e cruéis dúvidas. A vir­tude e santidade da esposa estavam acima de qualquer suspeita, não lhe permitindo ex­plicação menos favo­rável. De outro lado se vai diante de uma rea­lidade, que lhe tortu­rava a alma. Nesta perplexidade invencí­vel, resolveu abando­nar a esposa. Quando já tinha providenciado tudo para a partida, apareceu-lhe, em sonho, um Anjo do Senhor e disse-lhe: “José, Filho de Davi, não temas ad­mitir Maria, tua Esposa, porque o que nela se operou, é obra do Espí­rito Santo”. Foram assim de vez dissipadas as negras nuvens do espírito de José. É mais fácil imagi­nar do que descrever a alegria que lhe foi na alma, sabendo do grande mistério, que se operava em Maria. Com quanto respeito, com quanta atenção não teria tratado aquela, que pela fé sabia ser o tabernáculo vivo do Messias.

A época do nascimento de Jesus coincidiu com a publicação de um decreto do imperador Augusto, exi­gindo que os súditos romanos se alistassem na cidade de origem. Foi necessária esta determinação im­perial, para que se cumprissem as profecias do antigo Testamento, que indicavam Belém como cidade onde havia de nascer o Messias. José e Maria, sendo da família de David, em obediência ao decreto, fizeram a jornada para aquela cidade. O Messias, prestes a aparecer, chegou ao que era seu e os seus não o re­ceberam. Fecharam-se-lhe todas as portas, e os pobres pais outro abri­go não acharam, a não ser uma estrebaria fora da cidade. Provação duríssima para um coração tão ex­tremoso como era o de S. José. Essa tristeza foi largamente recom­pensada, dando lugar a uma ale­gria incomparável, quando, naquela noite do desterro, Maria Santíssima deu à luz o Filho de Deus. Com que transportes de alegria não teria con­templado o divino Infante com que satisfação não o teria tomado nos braços e coberto de ternos beijos!

Esta alegria foi aumentada ain­da pelas circunstâncias extraordinárias, que acompanharam o gran­de acontecimento: A aparição dos Anjos nos campos de Belém e o celestial canto, que igual o mundo jamais ouvira, desde sua existência, o comparecimento dos pobres pas­tores no estábulo, mais tarde a che­gada dos reis Magos do Oriente. To­dos estes fatos, cada qual mais ex­traordinário, despertaram em São José novos motivos, não só de aletria, como também de grande ad­miração. Pela primeira vez lhe sur­giu no espírito bem nítida, a subli­me missão que Deus na sua bonda­de lhe tinha reservado, a missão de Pai nutrício de seu Filho Unigêni­to. Este conhecimento, se bem que o tenha confundido, de certo lhe encheu a alma de paz indescrití­vel.

Passados quarenta dias, José, em companhia do Menino Deus e Ma­ria Santíssima, se dirigiu a Jerusa­lém, em obediência à lei, que exigia a apresentação do filho no templo. Sentiu-se-lhe a alma profundamen­te comovida, pela recepção que tive­ram do velho Simeão. Este, sem an­tes ter visto a criança, conheceu nela o Filho de Deus e, no transpor­te de satisfação que lhe invadiu a alma, desejou morrer.

Pouco tempo depois S. José rece­beu de Deus a ordem de fugir com a família para o Egito, para assim salvar a vida da criança, seriamente ameaçada pelo rei Herodes. Sem demora se pôs a caminho e ficou no Egito até segunda ordem. Esta veio, quando os perseguidores de Jesus tinham morrido, e José voltou para a sua terra. Por caute­la, porém, não ficou em Belém, mas se estabeleceu em Nazaré.

A perda e o encontro de Jesus no Templo Discutindo com os Doutores da Lei
Conforme o costume na terra dos judeus, José ia anualmente, por ocasião da Páscoa, a Jerusalém, pa­ra oferecer a Deus no templo, os sacrifícios prescritos pela lei. Quan­do o Menino Jesus tinha doze anos, foi pela primeira vez com os pais a Jerusalém. No dia da partida Je­sus ficou no templo, sem que os pais o soubessem. Resultou daí a grande aflição para as duas santas pessoas, que, com a maior ânsia, procuraram o filho durante três dias, ora nas casas dos parentes, ora entre os grupos de romeiros já de volta, até que o acharam no Templo, sentado no meio dos sacerdotes e escribas. Jesus desceu com os pais para Nazaré e ficou-lhes sujeito.

É tudo quanto sabemos de São José e o que os santos Evangelhos dele nos relatam. Sendo a Sagrada Família legalmente constituída, José era considerado pai de Jesus e Jesus filho do carpinteiro. Não de­vemos pôr em dúvida que José te­nha trabalhado com toda dedica­ção para ganhar o sustento das pessoas confiadas ao seu cuidado. Da mesma forma é certo que Jesus cumpriu para com ele as obriga­ções de filho, prestando-lhe obe­diência, respeito e amor do modo mais perfeito.

Ignora-se quando S. José mor­reu. Há razões que fazem supor que o desenlace se tenha dado an­tes da vida pública de Jesus Cris­to. Certamente não se achava mais entre os vivos quando seu Filho morreu na cruz; do contrário não se explicaria porque Jesus recomen­dou a Mãe a S. João Evangelista, não tendo para isto razão, se estives­se vivo S. José.

Que morte santa terá tido o Pai nutrício de Jesus! Que felicidade morrer nos braços do próprio Je­sus Cristo, tendo à cabeceira a Mãe de Deus! Mortal algum teve igual ventura. A Igreja com muita razão invoca S. José como padroei­ro dos moribundos e os cristãos se lhe dirigem com confiança, para alcançar a graça de uma boa mor­te.

Não existem relíquias de S. José, nem tão pouco sabe-se algo do lu­gar onde lhe foi sepultado o corpo. Homens ilustrados e versados nas ciências teológicas houve e há, que defendem a opinião de que S. José, em atenção a sua alta posição e grande santidade, foi, como S. João Batista, santificado antes do nasci­mento e já gozava de corpo e alma da glória de Deus no céu, em com­panhia de Jesus, seu Filho e Maria, sua santíssima Esposa.

Grande deve ser a nossa confiança na intercessão de S. José. A dig­nidade, a amizade íntima com Je­sus e Maria, o lugar proeminente no plano da Redenção, são outros tantos títulos que lhe garantem a influência e o poder junto ao tro­no de Deus. Não há pessoa, não há classe que não possa, que não deva se lhe dirigir. Santa Tereza, a gran­de propagandista da devoção a São José, chegou a dizer: “Não me lembro de ter-me dirigido a São José, sem que tivesse obtido tudo que pedira”.

A devoção a S. José na Igreja Ca­tólica é antiquíssima. A Igreja do Oriente celebra-lhe a festa, desde o século nono, no domingo depois do Natal; os Coptos comemoram-na no dia 20 de julho. Os Carmelitas in­troduziram-na na Igreja ocidental. Os Franciscanos em 1399 já festeja­ram a comemoração do santo Pa­triarca. Xisto IV inseriu-a no bre­viário e no missal; Gregório XV ge­neralizou-a em toda a Igreja. Cle­mente XI compôs o ofício, com os hinos, para o dia 19 de março e colocou as missões da China sob a proteção de S. José. Pio IX introdu­ziu, em 1847, a festa do Patrocínio de S. José, e em 1871 declarou-o Pa­droeiro da Igreja Católica; Leão XIII e Benedito XV recomendaram aos fiéis a devoção a S. José, de um modo particular, chegando este último Papa a inserir no missal um prefácio próprio.

Retirado e adaptado do livro: Lehmann, Pe. João Batista , S.V.D., Na Luz Perpétua, Lar Católico, Juiz de Fora, 1956.

 

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Luis Dufaur

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Na Idade Média, a herança familiar, quer se trate de um arrendamento servil ou de um domínio senhorial, permanece sempre propriedade da família

A herança familiar de pai a filho garantiu a estabilidade e a prosperidade das famílias em todas as classes sociais.

Não deixar o patrimônio enfraquecer, tal é realmente o fim a que visam todos os costumes medievais.

Por isso havia sempre um único herdeiro, pelo menos para os feudos nobres. Temia-se a fragmentação que empobrece a terra,dividindo-a ao infinito.

O parcelamento foi sempre fonte de discussões e de processos, além de prejudicar o cultivador e dificultar o progresso material, pois é necessário um empreendimento de certa importância para poder aproveitar os melhoramentos que a ciência ou o trabalho põem ao alcance do camponês, ou para poder suportar eventuais fracassos parciais, e em qualquer caso fornecer recursos variados.

O grande domínio, tal como existe no regime feudal, permite uma sábia exploração da terra. Pode-se deixar periodicamente uma parte em repouso, dando-lhe tempo para se renovar, e também variar as culturas, mantendo de cada uma delas uma harmoniosa proporção.

A vida rural foi extraordinariamente ativa durante a Idade Média, e grande quantidade de culturas foi introduzida na França durante essa época.

Isso foi devido, em grande parte, às facilidades que o sistema rural da época oferecia ao espírito de iniciativa da nossa raça.

O camponês de então não é nem um retardatário nem um rotineiro. A unidade e a estabilidade do domínio eram uma garantia tanto para o futuro como para o presente, favorecendo a continuidade do esforço familiar.

Nos nossos dias, quando concorrem vários herdeiros, é preciso desmembrar o fundo e passar por toda espécie de negociações e de resgates, para que um deles possa retomar a empresa paterna.

A exploração cessa com o indivíduo, mas o indivíduo passa, enquanto o patrimônio fica, e na Idade Média tendia-se para residir.

Se existe uma palavra significativa na terminologia medieval, essa palavra é mansão senhorial (manere, o lugar onde se está),o ponto de ligação da linhagem, o teto que abriga os seus membros passados e presentes, e que permite às gerações sucederem-se pacificamente.

Bem característico também é o emprego dessa unidade agrária que se denomina manse — extensão de terra suficiente para que uma família possa nela fixar-se e viver.

Senhores ou camponeses a preocupação fundamental é a mesma preservar e transmitir integra e amelhorada a herança dos antepassados Na foto o castelo de Caithness, na Grã Betanha.
Senhores ou camponeses, a preocupação fundamental é a mesma: preservar e transmitir integra e melhorada a herança dos antepassados Na foto o pequeno castelo de Caithness, na Grã-Betanha
Variava naturalmente com as regiões: um cantinho de terra na gorda Normandia ou na rica Gasconha traz mais ao cultivador que vastas extensões na Bretanha ou no Forez.

A manse tem pois uma extensão muito variável conforme o clima, as qualidades do solo e as condições de existência. É uma medida empírica e — característica essencial — de base familiar, não individual, resumindo por si só a característica mais saliente da sociedade medieval.

Assegurar à família uma base fixa e ligá-la ao solo de qualquer forma, para que aí tome raízes, dê fruto e se perpetue, tal é a finalidade dos nossos antepassados.

Pode-se traficar com as riquezas móveis e dispô-las por testamento, porque por essência são mutáveis e pouco estáveis. Pelas razões inversas,os bens fundiários [N.T.: propriedades rústicas ligadas à terra, à agricultura, que são a base da economia medieval] são propriedade familiar, inalienáveis e impenhoráveis.

O homem não é senão o guardião temporário, o usufrutuário. O verdadeiro proprietário é a linhagem.

Uma série de costumes medievais decorrem dessa preocupação de salvaguardar o patrimônio de família.

Assim, em caso de falta de herdeiro direto os bens de origem paterna voltam para a família do pai, e os de origem materna para a da mãe, enquanto no direito romano só se reconhecia o parentesco por via masculina.

É o que se chama direito de retorno, que desempata de acordo com a sua origem os bens de uma família extinta.

Do mesmo modo, o asilo de linhagem dá aos parentes mesmo afastados o direito de preferência, quando por uma razão ou por outra um domínio é vendido.

A maneira como é regulada a tutela de uma criança que ficou órfã apresenta também um tipo de legislação familiar. A tutela é exercida pelo conjunto da família, e torna-se naturalmente tutor aquele cujo grau de parentesco designa para administrar os bens.

O nosso conselho de família é apenas um resíduo do costume medieval que regulava o arrendamento dos feudos e a guarda das crianças.

Na Idade Média se tem viva a preocupação de respeitar o curso natural das coisas, de não criar prejuízos quanto aos bens familiares, tanto que, no caso em que morram sem herdeiro aqueles que detêm determinados bens, o seu domínio não pode voltar para os ascendentes.

Procuram-se os descendentes mesmo afastados, primos ou parentes, evitando voltar esses bens para os que tiveram antes a sua posse: “Bens próprios não voltam para trás”.

Tudo isso pelo desejo de seguir a ordem normal da vida, que se transmite do mais velho para o mais novo e não volta para trás: os rios não voltam à nascente, do mesmo modo os elementos da vida devem alimentar aquilo que representa a juventude, o futuro.

A família é a detentora da propriedade. Seus membros são os guardiões que devem transmiti-la e não podem aliená-la nem fazer o que bem entendem.
Esta é mais uma garantia para o patrimônio da linhagem, que se transfere necessariamente para seres jovens, portanto mais ativos e capazes de o fazer valer mais longamente.

Por vezes, a transmissão dos bens faz-se de uma forma muito reveladora do sentimento familiar, que é a grande força da Idade Média.

A família (aqueles que vivem de um mesmo “pão e pote”)constitui uma verdadeira personalidade moral e jurídica, possuindo em comum os bens cujo administrador é o pai.

Pela sua morte, a comunidade reconstitui-se com a orientação de um dos filhos, designado portanto pelo sangue, sem que tenha havido interrupção da posse dos bens nem transmissão de qualquer espécie.

É aquilo a que se chama a comunidade silenciosa, de que faz parte qualquer membro da casa de família que não tenha sido expressamente posto “fora do pão e pote”.

O costume subsistiu até ao fim do Antigo Regime, e podem-se citar famílias francesas que durante séculos nunca pagaram o mínimo direito de sucessão. Em 1840, o jurista Dupin assinalava nessa situação a família Jault, que não o pagava desde o século XIV.

Em todos os casos, mesmo fora da comunidade silenciosa, a família, considerada no seu prolongamento através das gerações, permanece o verdadeiro proprietário dos bens patrimoniais.

O pai de família que recebeu esses bens dos antepassados deve dar conta deles aos seus descendentes. Seja servo ou senhor, nunca é o dono absoluto.

Reconhece-se a ele o direito de usar, não o de consumir, e tem além disso o dever de defender, proteger e melhorar a sorte de todos os seres e coisas dos quais foi constituído o guardião natural.

(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)

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Escudo dos Duques de Gandia

Duque de Gandia, Vice-rei da Catalunha, Geral da Companhia de Jesus, iluminou sua época com invulgar sabedoria política e altas virtudes

Plinio Maria Solimeo

O pequeno Ducado de Gandia, pertencente ao Reino de Valência, era governado no início do século XVI por Dom João de Borja. Sua mãe, viúva pela segunda vez aos 18 anos, logo que o filho pôde administrar o Ducado, retirou-se aos 33 anos de idade para o mosteiro de las Descalzas, como vulgarmente são denominadas na Espanha as monjas clarissas. Lá já se encontrava sua filha Isabel, que edificava por sua virtude.

Dom João era casado com Dona Joana de Aragão, neta, por um ramo bastardo, do Rei Fernando de Aragão, esposo de Isabel, a Católica. Expulsando os mouros de Granada, no mesmo ano em que promoviam o descobrimento da América, esses soberanos puseram fim a oito séculos de dominação moura na Espanha.

Francisco, primogênito dos Duques de Gandia, nascido a 28 de outubro de 1510, deveu à mãe sua precoce piedade. Dona Joana tinha especial predileção por ele, devido a seu bom temperamento e natural inclinação à virtude. Não descuidando em que recebesse formação própria a seu ilustre sangue, escolheu para ele dois preceptores de conhecida erudição e comprovada virtude.

Modelo de virtude em luxuosa Corte
Aos 10 anos Dom Francisco perdeu a mãe. Devido a este falecimento, o menino deixou o convívio do pai e dos sete irmãozinhos, pois sua educação foi confiada ao tio materno, Arcebispo de Saragoça. Com ele passou alguns anos.

Como o costume exigia então, os filhos dos Grandes de Espanha passavam a juventude como pajens na Corte. Assim, ao cumprir 16 anos, Francisco foi enviado à de Carlos V, jovem rei da Espanha e Imperador do Sacro Império. Este logo afeiçoou-se ao adolescente pela nobreza de sangue, seriedade, diligência e piedade.

A Imperatriz Isabel, filha do Rei de Portugal e esposa de Carlos V, tinha tal dileção por Dom Francisco que, atingindo ele os 20 anos, deu-lhe por esposa Dona Leonor de Castro, sua melhor dama de companhia, então com 17, em cujas veias corria o mais ilustre sangue luso. Como presente de bodas, o Imperador Carlos V concedeu a Dom Francisco, além do título de Marquês de Lombay, a nomeação como Montero-Mor de sua Casa. E a Imperatriz acrescentou-lhe o de seu Cavalariço-Mor, e à Marquesa, esposa de Francisco, o de sua Camareira-Mor.

A Imperatriz quis ser a madrinha do primeiro filho do casal, que recebeu o nome de Carlos, em honra do Imperador. E também dispôs que seu filho Felipe — o futuro Felipe II — fosse o padrinho.

Em meio a todas essas distinções, sendo dos poucos a ter entrada livre na câmara real e vivendo em faustosa Corte, o jovem Marquês de Lombay mostrava-se sempre simples e recatado, impressionando a todos por sua rara virtude. Esta era fruto do hábito salutar que adquirira de domar sempre suas paixões e más inclinações. Para isso, utilizava os métodos mais eficazes, como a oração, confissão e comunhão freqüentes, além de penitências voluntárias. Dona Leonor procurava seguir a mesma trilha.

Deus os abençoou, concedendo-lhes cinco filhos e três filhas, uma das quais seguiria a senda da bisavó, entrando também para las Descalzas de Gandia. Após o nascimento do oitavo filho, os Marqueses, de comum acordo, decidiram viver em estado de continência, embora não tivessem atingido ainda os 30 anos de idade…

O ano de 1529 marcou profundamente a vida do Marquês. A Imperatriz Isabel faleceu, após breve doença, no auge do poder e de sua extraordinária beleza. Como prova de estima pelo casal, o Imperador dispôs que somente a Marquesa amortalhasse sua esposa e que fosse o Marquês quem acompanhasse os restos mortais dela até o Panteón Real, em Granada.

Quando, após 15 dias de trasladado, sob um sol abrasador, o Marquês teve que reconhecer ante os notários aquele corpo já em adiantado estado de corrupção, constatou novamente, de maneira pungente, a fragilidade das glórias deste mundo. E renovou seu propósito de, se sobrevivesse à esposa, dedicar-se somente à vida que não tem fim, numa Ordem Religiosa.

São João de Ávila, a quem então abriu sua alma, aprovou-lhe a decisão.

Vice-rei da Catalunha – “Exílio” em Gandia
Apenas voltou de Granada, Carlos V nomeou-o Vice-rei da Catalunha, cargo de grande confiança e responsabilidade, anteriormente concedido somente a pessoas mais idosas e já experimentadas em funções semelhantes. O Imperador reconhecia assim, naquele vassalo fiel de 30 anos incompletos, a maturidade e prudência necessárias para tal cargo.

Nos três anos de seu vice-reinado, Dom Francisco acabou com o banditismo que infestava a região, robusteceu a fronteira com a França, implementou a marinha e, em tudo, mostrou-se hábil político e grande administrador.

Quando, em 1542, ia começar seu segundo triênio, o Marquês recebeu a notícia do falecimento de seu pai. Pediu então licença ao Imperador para ir pôr as coisas em ordem no Ducado que herdara.

Esta foi-lhe concedida, mas Carlos V já o havia nomeado Mordomo-Mor da Princesa da Espanha, Presidente de seu Conselho e Superintendente de seu Erário. À Duquesa, sua esposa, o Imperador nomeara Camareira-Mor; e às suas duas filhas maiores, damas de honra. Todos entenderam que, nomeando a Dom Francisco Mordomo-Mor de seu filho Felipe, Carlos V tencionava designar assim o primeiro-ministro do próximo reinado.

Entretanto… Deus queria para Dom Francisco não a vida na Corte, mas o governo do pequeno Ducado, a fim de melhor prepará-lo para a grandíssima missão que lhe destinava. E assim sucedeu que, quando Carlos V comunicou à Família Real portuguesa qual a Casa e Servidores que, com diligência, havia escolhido para a futura rainha da Espanha, os soberanos portugueses, por motivos ignorados, rejeitaram o Duque de Gandia.

Dom Francisco, nos sete anos seguintes, dedicou-se inteiramente ao seu novo Estado e à vida de família. Fundou um Colégio da Companhia de Jesus, depois elevado a Universidade, para dar formação verdadeiramente católica não só aos filhos de seus vassalos, mas principalmente aos dos mouriscos residentes no ducado, que mal aprendiam a verdadeira Religião.

Já se afeiçoara à nova milícia fundada por Inácio de Loyola, devido à amizade que mantinha com Pedro Fabro, Pe. Araoz e um dos jovens jesuítas que foram para o Colégio de Gandia, o futuro São Luís Beltrão, Apóstolo da Colômbia.

Membro da Companhia de Jesus
Em 1546, o Duque teve a dor de ver morrer sua piedosa esposa. Se, de um lado, com somente 36 anos, ele se via livre para realizar seu projeto de consagrar-se a Deus, de outro prendia-o ao mundo sua numerosa prole, ainda quase toda na infância.

Seu desejo de pertencer à Companhia de Jesus levou-o a enviar a Inácio de Loyola uma carta pedindo-lhe humildemente que o aceitasse entre seus filhos e expondo-lhe os obstáculos que se antepunham a tal desejo: a saber, sua condição de pai e Duque. Enquanto isso, fez voto de castidade e obediência ao superior dos jesuítas de Gandia.

A carta de Dom Francisco chegou ao Geral da Companhia de Jesus num momento de grande dor, pois este acabara de perder o seu primeiro e muito amado discípulo, Pedro Fabro, consumido por seu extraordinário zelo. Santo Inácio, que por revelação divina já soubera que o Duque entraria para Companhia, por nova luz sobrenatural teve conhecimento de que ele seria digno substituto do filho perdido.

E, realmente, o fundador da Companhia tinha o Duque em tão alta conta, que passou a consultá-lo sobre problemas que ele enfrentava na Espanha, recomendando ao seu Provincial que fizesse o mesmo.

Certa vez, tratando-se de uma fundação em Sevilha, à qual Santo Inácio não estava muito inclinado, enviou ele a Gandia uma folha em branco com sua assinatura e deixando ao Duque o poder de decisão.

Do papel que passou a ter Dom Francisco nos destinos da Companhia, dá prova o Cardeal Cienfuegos ao afirmar que “todas as empresas e dificuldades da Companhia na Espanha e mesmo na Europa passavam por Gandia, buscando a direção e o juízo de Borja, amparo de sua grandeza e abrigo em sua sombra”.

Profissão secreta na Companhia de Jesus
Carlos V, que nunca esquecia o Duque, pensou em nomeá-lo Presidente do Conselho do novo reinado. Ao convocar as Cortes Gerais do Reino de Aragão, em 1547, escolheu as pessoas que haviam de acompanhar seu filho Felipe, figurando na cabeça da lista o Duque de Gandia. Nomeou-o também Tratador (um dos quatro intermediários entre o Príncipe regente e seus Estados). Dom Felipe insistiu então com o Duque para que aceitasse definitivamente o cargo de Mordomo-Mor.

Dom Francisco recorreu a Santo Inácio. Este foi imediatamente ao Vaticano, suplicando ao Santo Padre uma dispensa extraordinária para que um nobre pudesse fazer a profissão solene na Companhia, conservando-a entretanto em segredo, mantendo as aparências de secular, pelo decurso de três anos, a fim de colocar seus filhos. Assim, esse nobre (cujo nome foi ocultado) ficaria livre de todos os assaltos exteriores.

Obtida a dispensa, o fundador da Companhia enviou-a ao Duque, recomendando-lhe que não se aproximasse de Roma, pois era desejo do Papa conceder-lhe o chapéu cardinalício.

O novo professo da Companhia continuou intervindo na reforma dos conventos relaxados. E quando os inimigos da Companhia lançaram uma campanha de calúnias contra seu fundador e os Exercícios Espirituais, por ele redigidos, Santo Inácio escreveu ao Papa pedindo um exame rigoroso dos mesmos, com uma conseqüente sentença pontifícia. Esta veio mediante o Breve Pastoralis Officii cura, uma aprovação explícita e honrosa da obra, concedendo indulgências a quem dela se aproveitasse. Isso fez calar e estremecer seus caluniadores. Ao fim de quase três anos, conseguiu o Duque casar seus filhos maiores. Transferira alguns de seus privilégios para seu segundo filho, e encarregara o mais velho de proteger e educar os três menores. Tudo parecia pronto quando, casando-se novamente o Príncipe Felipe, pensou outra vez no Duque para seu Mordomo-Mor.

Encontro de dois Santos
Dom Francisco escreveu a Santo Inácio pedindo-lhe licença para refugiar-se em Roma, uma vez que Paulo III havia falecido e o “perigo” do chapéu cardinalício estava momentaneamente afastado. O Geral da Companhia recebeu de braços abertos aquele filho, que conhecia só sobrenaturalmente. Quando o Duque ajoelhou-se para pedir-lhe a bênção, Santo Inácio fez o mesmo e reuniram-se os dois santos num longo abraço.

Mas não tardou que o novo Papa, Júlio III, conhecendo melhor o Duque, desejasse cumulá-lo de honras, inclusive a concessão do chapéu cardinalício. Santo Inácio mandou-o então afastar-se de Roma e voltar para a Espanha.

Em sua pátria, recebeu finalmente, como Grande de Espanha que era, a permissão de Carlos V para fazer-se religioso. Já podia deixar os trajes seculares, usar batina e receber a ordenação sacerdotal. Tinha então quarenta anos de idade.

Pode-se imaginar que repercussão tal acontecimento provocou na devota Espanha! De todos os lados choveram pedidos para sermões, visitas e exercícios espirituais.

Santo Inácio nomeou o ex-Duque de Gandia, apesar de sua recente ordenação, Comissário Geral da Companhia para toda a Espanha.

Certo dia, visitando nessa qualidade os jesuítas de Ávila, estes referiram-se a uma freira, cuja vida estava pontilhada de eventos extraordinários e que era muito perseguida e caluniada. Assim encontraram-se São Francisco de Borja e Santa Teresa de Jesus. O primeiro confirmou que esta era guiada pelo espírito divino, e transformou-se em seu ardente protetor.

Mas novamente o demônio e seus sequazes humanos recomeçaram a campanha de calúnias contra a Companhia de Jesus. O próprio Arcebispo de Saragoça, tio do Pe. Francisco, pregava contra os jesuítas. Em alguns lugares foram estes apedrejados.

Carlos V, vendo a tempestade que se formara, mandou chamar seu antigo protegido. Em uma conversa de três horas, comprovou toda a santidade do antigo Duque e a malícia dos caluniadores. A proteção do Imperador salvou novamente a Companhia. Pouco depois, Carlos V renunciava ao trono e retirava-se para o mosteiro de Yuste, onde três anos depois terminaria seus dias mencionando em seu testamento o Pe. Francisco.

Superior, Geral da Companhia de Jesus e glorificação post-mortem
Ao falecer Santo Inácio, o novo Geral, Pe. Laynes, devendo ausentar-se de Roma para participar do Concílio de Trento com o Pe. Salmeron, na qualidade de teólogos do Papa, chamou à Cidade Eterna o Pe. Francisco, nomeando-o Vigário Geral da Companhia. Isso lhe preparava o sucessor, pois, realmente, quando faleceu o Pe. Laynes, Francisco de Borja foi eleito por unanimidade terceiro Geral da Companhia.

Em seu governo, enviou seus filhos ao Novo Continente, inaugurou o noviciado da Ordem, recebendo nele o futuro Santo Estanislao Kostka e muitos outros que morreriam mártires em terras de infiéis.

O Papa são Pio V, preparando sua cruzada contra os turcos, pediu ao Geral da Companhia, devido a seu sangue real e grande prestígio que gozava na Corte da Espanha, que fosse pessoalmente tratar com o rei Felipe II sobre sua ajuda.

Ao voltar para Roma, alquebrado e com a saúde muito abalada, Francisco de Borja entregou sua alma ao Criador, na noite de 30 de setembro de 1572. Não só o povo, mas também Bispos e Cardeais acorreram à casa da Companhia para oscular os restos mortais daquele que já consideravam Santo.

Em 1671, Clemente XI canonizou-o solenemente. Toda a Espanha vibrou, especialmente a nobreza, que o nomeou seu patrono, obtendo ainda o traslado de seus restos mortais para Madri.

Fontes de referência:

Adro Xavier, EL DUQUE DE GANDÍA, El Noble Santo del Primer Imperio – Apuntes históricos, Editora Espasa-Calpe, S. A., Madrid, 1950.

Santos de Cada Dia, tomo III, 3 de outubro, São Francisco de Borja, Organizado pelo Pe. José Leite, S. J., Editorial A.O., Braga, Portugal, 1987.

Marcelle Auclair, Santa Teresa de Ávila, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1959.

Nota:

As citações que vêm entre aspas foram todas extraídas da primeira obra acima indicada; mencionamos somente o número da página em que elas aparecem.

Revista CATOLICISMO, outubro de 1998

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Bastante conhecido é o episódio ocorrido em 1862, quando o Brasil rompeu relações com a Inglaterra, por ocasião do da chamada Questão Christie.
Finalmente, em 1865, a Inglaterra viu-se obrigada a ceder ante a inflexibilidade do Imperador Dom Pedro II, enviando um emissário especial, Mr. Edward Thornton, que transmitiu ao Monarca a seguinte mensagem:

“Tenho a honra de depositar nas mãos de Vossa Majestade Imperial a carta pela qual Sua Majestade a Rainha se dignou acreditar-me como seu enviado em missão especial junto de Vossa Majestade Imperial, e suplico a Vossa Majestade digne de acolher com a sua reconhecida benevolência as seguranças de sincera amizade e as expressões que fui encarregado de transmitir por Sua Majestade a Rainha pelo meu governo.
Estou incumbido de exprimir a Vossa Majestade Imperial o pesar com que Sua Majestade a Rainha viu as circunstâncias que acompanharam a suspensão das relações de amizade entre as Cortes do Brasil e da Grã-Bretanha, e de declarar que o Governo de Sua Majestade nega, da maneira mais solene qualquer intenção de ofender a dignidade do Império do Brasil; e que Sua Majestade aceita completamente e sem reserva a decisão de Sua Majestade o Rei dos Belgas; e será feliz em nomear um ministro para o Brasil...”.
(Joaquim Nabuco – UM ESTADISTA DO IMPÉRIO, vol. II, p. 306)

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Rei Afonso XIII

 

O que será lido é o contrário da idéia comum que a Revolução procura espalhar entre as pessoas de pouca cultura a respeito do pretenso orgulho dos Reis e da nobreza em geral, bem como o desdém que teriam tido em relação aos pobres.

Pelo contrário, na Corte de Espanha se realizava uma cerimônia litúrgica de lavapés de mendigos. O próprio Rei lavava os pés dos mendigos.

• A cerimônia do Lavapés, iniciada por São Fernando III

Sublimidade, Humildade e Serviço refletidos em uma cerimônia multissecular: os Reis, secundados por Grandes de Espanha, lavam os pés de mendigos na Quinta-feira Santa, e lhes servem à mesa

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Princesa Pilar de Baviera

 

Trechos extraídos do livro “Alfonso XIII”, escrito por S.A.R. a Princesa Pilar de Baviera e o Comandante Desmond Chapman-Huston (Editorial Juventud S.A., Barcelona, 1959, pp. 243 a 249)

De todas as cerimônias da Semana Santa na Corte espanhola, a mais emocionante e de sentido mais profundo é o Lavapés de Quinta-feira Santa. Pratica-se hoje como se vinha fazendo desde 1242, no Reinado de Fernando, o Santo.

São Fernando, o conquistador de Sevilha, que deixou tudo pronto para que a conquista de Granada fosse como o pulo de um gato sobre um pássaro, foi quem iniciou este tipo de cerimônia.

Seu verdadeiro início, obviamente, foi na noite daquele dia em que, cansados por uma longa viagem, os doze amigos estavam sentados tristemente no Cenáculo, e Um deles que, sendo seu Rei, era também seu servidor, cingindo-se de uma toalha, tomou água e lavou os pés cansados e sujos de poeira de todos eles. E o efeito de refrigério desta simples ação chega até nós, renovado através dos séculos.

Uma vez cada dez anos, milhares de peregrinos acodem desde todas as partes do mundo para vê-la representada pelos camponeses de Oberammergau nas montanhas da Baviera; mas aqui, em Madrid, pode-se ver todos os anos, e o belo gesto é desempenhado pelo Rei e a Rainha genuflexos.

No Reinado de Isabel II, esta lavava os pés das mulheres, e seu esposo, o Rei Francisco, os dos homens. No de Afonso XII, foi celebrada a cerimônia uma vez por ele, com a jovem Rainha Mercedes ao seu lado. Maria Cristina, como Rainha-esposa, nela tomou parte seis vezes. Durante a Regência, cumpriu-a sozinha, sem participação de nenhum homem. Tão logo atingiu a maioridade, o Rei Alfonso XIII assumiu este antigo privilégio, unicamente com varões, até seu casamento, quatro anos mais tarde.

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Palácio Real de Madrid – Sala de Columnas – Comedor de Gala

 

A cerimônia se dá na magnífica sala de pedra chamada Salão das Colunas, disposta especialmente para o ato. O Lavapés é precedido pela Capela Pública. Acabada esta, os funcionários da Corte, os grandes e a Família Real vão em procissão da Capela Real ao Salão das Colunas. A multidão na Galeria é mais numerosa ainda do que no Domingo de Ramos.

Depois de ver entrar a procissão na Capela Real, os privilegiados convidados se apressam em ocupar seu assento reservado no Salão das Colunas e contemplam com sumo interesse a cerimônia.

Junto à parede oposta à entrada principal se instala um altar provisoriamente, atrás do qual é dependurado um sombrio tapete com uma bela representação da Última Ceia, que precedeu ao primeiro Lavapés.

De cada lado do altar há um grande assento semicircular recoberto por um tecido de lã, com um tamborete bastante alto. À direita e à esquerda do salão, mais longe do altar, se encontram umas longas mesas cobertas com toalhas brancas, e em cada uma delas há doze grandes jarros brancos e azuis e doze grandes pratos com pão. De cada lado do altar há pequenos jarros de ouro e, próximo destes, uma grande bacia de prata. Ao longo de um dos lados do salão se acham dispostas três tribunas: a do centro, para a Família Real; à sua direita, para o Corpo Diplomático, e à esquerda, para o Presidente do Conselho, o Governo e outros. No lado oposto está o espaço reservado para o público, onde se apinham pessoas de todas as classes, como as que entram para ver a Capela Pública. O centro do grande salão se acha completamente vazio e coberto com um magnífico tapete feito na Real Fábrica de Tapetes, de Madrid.

Pouco depois, vistosos lacaios aparecem conduzindo, um por um, os doze anciãos e doze anciãs, colocando-os cuidadosamente nos assentos de cada lado do altar. É necessário ter cuidado, porque vários são cegos. As mulheres, vestidas de negro, levam “mantillas” da mesma cor. Os homens tem posta a longa capa negra e levam chapéus de copa de antigo uso. Tanto as mulheres como os homens calçam grossos sapatos e meias de lã cinza.

A seguir, entra o Duque de Vistahermosa, introdutor de embaixadores, com o pessoal de seu Departamento. Coloca-se na entrada principal e acolhe, um por um, aos embaixadores estrangeiros, às suas senhoras e ao pessoal. As damas se vestem com magnificência, algumas em trajes branco e outras de cor, posto que na Quinta-feira Santa se permitem ainda cores, mas todas com belas “mantillas” brancas.

Entra o público. Como sempre, há alguém que conhece todo mundo e se empenha em nomear as várias pessoas importantes conforme entrem. Entre estes o Núncio de Sua Santidade, Monsenhor Frederico Tedeschini, o qual se mostra altivo com o grande título de Arcebispo de Lepanto. O conde de Welczeck, cortês e digno, representa a Alemanha na magnífica Embaixada do Paseo de la Castellana. Aquele senhor alto e distinto é Sir George Grahame, de aparência incrivelmente jovem para ser embaixador extraordinário de Sua Majestade britânica e ministro plenipotenciário, tendo sido já embaixador em Bruxelas antes de vir a Madri. O cavaleiro que sorri tão amavelmente, com simples fraque preto, é o sr. Irwing B. Laughlin, embaixador dos Estados Unidos. Não quiséramos que inventasse um uniforme fantástico, como fez um de seus colegas em outra capital da Europa. Mas se impõe a idéia, à falta de uniforme oficial como embaixador, de que poderiam lhe dar, como se faz às vezes em Inglaterra, o título de coronel honorário de algum regimento famoso da América. Um diplomata norte-americano vestindo o belo e imponente uniforme de coronel de Infantaria da Marinha deixaria na sombra a qualquer traje diplomático europeu. (…)

A tribuna governamental, à esquerda da régia, está completa também. Ali, o Presidente do Conselho, Almirante Aznar; o Marquês de Hoyos, Ministro e Prefeito de Madri; o chefe liberal Conde de Romanones; (…) o Marquês de Alhucemas, quatro vezes Presidente liberal do Conselho, agora Ministro da Justiça; o Duque de Maura, Ministro do Trabalho; (…) o chefe conservador, Conde de Bugallal. Ministro do Fomento. (…)

Madrid já se prepara para viver sua Semana Santa e os altares dos templos já estão cobertos panos de luto roxos. No Palácio Real se celebra, na manhã do Domingo de Ramos, a Procissão de Ramos. Desde a câmara real um breve cortejo se dirige à capela. Os Reis, as Infantas, e os palatinos portam os ramos simbólicos.

As horas da Paixão se comemoram profundamente no Palácio Real. Na Quinta-Feira Santa, à duas da tarde, no Salão das Colunas — onde se celebrou o banquete das bodas reais, onde tantas vezes soaram músicas e brilharam jóias e uniformes —, se celebra o Lavapés dos Pobres.

É um antigo costume da Corte Espanhola, manifestação de humildade e amor que nesse dia têm os Reis para com os desvalidos.

São doze homens e doze mulheres, vencidos pela idade, os que ali estão reunidos. O Sr. Bispo já lhes molhou os pés e o Rei, de joelhos, os seca e beija as pobres plantas rugosas. Depois, de joelhos, Afonso XIII se dirige ao seguinte ancião e, uma e outra vez, prossegue a tarefa. Um Grande de Espanha, a continuação, calça ao velhinho.

É a primeira vez que a Rainha vive esta cerimônia palatina, e se ajoelhou ante as anciãs, sob uma profunda emoção. Se levanta, vai de uma a outra, e põe no secar e beijar os pés delas um acento de unção silenciosa.

A cada pobre lhe é entregue nesse dia uma grande cesta com comidas feitas na cozinha do Palácio. E uma vestimenta nova, algumas roupas interiores, cobertores e umas moedas.

Ao entardecer da Quinta-Feira Santa faz-se a visita aos Monumentos, nos templos do entorno do Palácio Real. Os Reis vão a pé, acompanhados pelas irmãs de Afonso e por ajudantes palatinos. Alguns servidores levam, perto do pequeno grupo, as cadeiras de mão: mais por protocolo e por tradição do que por necessidade. Recorrem as igrejas do Sacramento, de São Justo, de São Ginés, de Santiago, da Encarnação…

Ao regressar ao Palácio, a Rainha Maria das Mercedes se sente cansada: a emoção do Lapa Pés, a caminhada a pé, a própria debilidade de seu organismo (…).

Na tarde da Sexta-Feira Santa os Reis presenciam desde os balcão principal do Palácio o desfile da Procissão. Entre os andores figura o Cristo dos Alabardeiros, que estes acompanham com um andar característico, lento, silencioso, ritual. Os soldados levam as armas “à funeral”, os tambores cobertos de luto. Uma marcha fúnebre dá o compasso grave ao desfile diante do Palácio. No balcão, a palidez do rosto da Rainha Mercedes sobressai entre as roupas negras”.

[1)]José Montero Alonso, Sucedió en Palacio. Ed. Prensa Española, Madrid, 1976, págs. 225 y 226, in “Covadonga Informa”, Núm. 152, Março de 1991 – Boletim oficial da Sociedad Española de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad – TFP-Covadonga.

Exceto a tribuna real e o centro do conjunto de galerias, todos os cantos do Salão das Colunas estão agora ocupados. Foram acesas as velas do altar. Os vinte e quatro anciãos vestidos de preto permanecem sentados, impassíveis. Produz-se um ligeiro movimento, todos se levantam e a Família Real entra. Saudando, primeiro aos diplomatas e depois à tribuna governamental, tomam seus assentos um por um. Predominam os do ramo bávaro. A Infanta Paz está no centro, com traje de prata e cauda cor de pêssego, diadema e mantilha branca e, sobre o peito, a fita violeta da Ordem de Alfonso XII, que lhe concedeu seu sobrinho em reconhecimento pelo seu labor educativo e social em favor dos espanhóis residentes na Baviera. Ao seu lado, seu filho mais velho, Infante Fernando, com suas esposa a Infanta Luísa, e sua irmã a Princesa Pilar, a qual leva também diadema, mantilha branca, várias condecorações, entre elas a da Ordem de Maria Luísa, e uma longa e brilhante cauda. À esquerda da Infanta Paz, seus três netos: Da. Mercedes, Don José e Don Luís, filhos do Infante Fernando. Ao lado deles, dois dos filhos do Rei, Dona Beatriz e Dom João, cujo uniforme simples de cadete naval contrasta com a magnificência do que leva o Almirante Aznar, na tribuna adjacente.

Alguns funcionários da Corte aproximam-se agora pelo umbral e se situam juntos. Desfilam os Grandes da Espanha e ocupam seus postos em fileira, os cavaleiros à esquerda e as senhoras à diReita, formando assim uma longa avenida desde a entrada até o altar. Chega o clero, com o Bispo de Sião, o qual ocupa o posto central nas fileiras sacras. Os últimos são o Rei e a Rainha.

Neste momento o espetáculo é grandioso. As damas mais nobres de Espanha, com vestidos de Corte de longas caudas, diademas e condecorações; ao lado oposto, os Grandes (de Espanha) com toda sorte de uniformes e condecorações de todas as Ordens, alguns anciãos, todos distintos, todos portadores de nomes e títulos ilustres, muitos deles servidores, em diversas ocasiões, do Estado. Reza-se em latim o Evangelho do dia:

“Vós chamais-me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, pois, (sendo vosso) Senhor e Mestre, vos lavei os pés, deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Porque Eu dei-vos o exemplo, para que, como Eu vos fiz, assim façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. Se compreendeis estas coisas, bem-aventurados seReis, se as praticardes”.

Então, é abençoada a assembléia, o Rei e a Rainha são espargidos com água benta e, dando as costas ao altar, voltam-se face ao público. O Rei, secundado pelo Duque de Miranda, seu grande camarista, entrega sua barretina militar a um cavaleiro e, tirando as luvas brancas e a espada, as dá a outro.

A Duquesa de São Carlos, mãe do Duque de Miranda, está de serviço com a Rainha. Sua Majestade confia sua bolsa e suas luvas a uma de suas damas e, neste mesmo momento, cingem a ela e ao Rei com amplas toalhas brancas oferecidas em bandejas de ouro pelo clero aos ajudantes para tal efeito.

Enquanto isto, um Grande de Espanha se ajoelha ante cada ancião e lhe tira os sapatos e as meias.

Comentário:  Notem que é um Grande de Espanha, a mais alta categoria de espanhóis.

Uma Duquesa, Marquesa ou Grande de Espanha, todas damas de Sua Majestade a Rainha, está genuflexa também ante cada anciã, executando a mesma função para com ela.

Alguns funcionários trazem os pequenos vasos de ouro das mesas colocadas ao lado do altar. O Rei, com a toalha branca por cima do uniforme e na mão um grande guardanapo, ajoelha-se ante o ancião mais próximo ao altar, que mantém o pé sobre a grande bacia de prata. O bispo lhe despeja um pouco de água e o Rei o seca cuidadosamente e o oscula.

Deslocando-se de joelhos, repete a cerimônia com cada um dos outros onze.

Comentário: Notem bem: o Rei, passando de um pobre para outro, desloca-se de joelhos.

• Perfeito equilíbrio: o Rei, que chega ao último ato de humildade, tem um Grande de Espanha que o serve no mesmo ato.

Algumas vezes seus lábios tocam alguma ferida. Outras vezes, um artelho inchado, atingido por alguma enfermidade ou transformado em algo repugnante pelos anos e pelo trabalho. À medida que passa o Rei, o Grande (de Espanha), encarregado de cada pobre, volta a lhe colocar as meias e os sapatos.

Comentário: É muito bonito o equilíbrio, porque o Rei chega ao último ato da humildade: oscular os pés descalços, muitas vezes doentes e repugnantes, dos pobres a quem ele vai servir, lembrando o excelso exemplo de Nosso Senhor.

De outro lado, o cerimonial não perde de vista que ele é o Rei. Então, enquanto o Rei oscula e seca os pés do mendigo, já está tudo previsto para que outros lhe calcem as meias e os sapatos. Dando a entender, assim, que o Rei não deixa de ser o Rei e que ele tem quem o sirva.

Este que ajuda o Rei é também um Grande de Espanha, o qual, seguindo o exemplo do Rei, também serve o pobre vestindo-lhe as meias e os sapatos.

 

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O Lavapés na Corte de Alfonso XII
(La Ilustracion Española y Americana – El día 25 de marzo de 1880, Jueves Santo )

 

• Na antiga e católica Espanha, o pobre era tratado com dignidade por ser igual – como homem e católico – ao rico. O contrário disso é a mentalidade de um “grande de Hollywood”…

A cerimônia é profundamente rica em significados, de emoção incrivelmente pungente: assim é a Espanha. Em nenhum outro país poderia assumir valor ou significado tão vivaz. Na Espanha, a pobreza não é ignóbil. Se o transeunte não pode assistir ao mendigo, deve lhe dar, em seu lugar, uma desculpa cortês. (…)

Sobretudo, o fracasso nas coisas deste mundo não se considera como um crime, pois todo bom espanhol sabe que o êxito mundano, a eminência, a grande riqueza, tem que se conquistar, como tudo nesta vida, e que muitas vezes só se obtém pelo egoísmo, a arrogância e a dureza de coração…

Comentário: Está muito bem formulado isto no seguinte sentido: é o contrário da mentalidade “hollywoodiana” enquanto aplicada a negócios.

Segundo a mentalidade “hollywoodiana”, a finalidade da vida é gozá-la. O meio para gozá-la é ter dinheiro. E, portanto, o meio de ter dinheiro é aplicar a vida no business, em certo gênero de trabalho que fazem com que de um modo rápido e lucrativo a pessoa, em pouco tempo, faça bastante dinheiro e fique muito rica.

Estes são os bem sucedidos da vida e são  não os Grandes de Espanha, mas os “grandes de Hollywood”. Segundo a mentalidade Hollywood, esses são os “grandes”…

Ora, na Espanha, naquele tempo muito mais imbuída de Civilização Cristã do que, infelizmente, hoje, o modo de considerar o pobre era inteiramente diferente.

Há o pobre. O pobre pode ser um fracassado. Tentou fazer fortuna, mas as circunstâncias infelizes lhe impediram de obtê-la. Ele continua, como pobre, objeto de atenções especiais.

Por exemplo, a um mendigo que pede dinheiro, não se passa diante dele sem dizer-lhe algo. Não se tendo dinheiro no momento, é preciso, pelo menos, dizer ao mendigo uma palavra amável, um pedido de desculpa, algo assim. Pois é uma criatura humana e tem todos os direitos a ela devidos. Mostrando a miséria em que se acha e pedindo auxílio, é próprio à natureza humana que o pobre tenha direito de que um outro que seja mais provido do que ele – mas que enquanto natureza humana, são iguais, enquanto católicos são iguais –, esse homem olha para o que não dispõe de meios de se manter e lhe diga uma palavra amável, a fim de dar a entender que respeita nele o filho de Deus.

Como isso dignifica a condição humana. Mas como também tem um valor muito importante no sentido de fazer imbuir as pessoas de que a finalidade da vida não é ganhar dinheiro, mas ser digno. E que essa dignidade um pobre miserável pode ter perfeitamente. Por causa disso, é perfeitamente normal e obrigatório que uma pessoa, que faça um pedido de esmola, receba um tratamento cortês e gentil.

Ora, isto não é conforme a psicologia “hollywoodiana”. Segundo esta, se um homem fez dinheiro no business, ele tem direito a tudo e não tem que responder a um miserável fracassado, que é “cretino”, que não sabe fazer negócio, que não sabe ganhar dinheiro e que, portanto, é “desprezível”.

Depois, há o aspecto do corre-corre no estilo holywoodiano. O homem do business está sempre correndo atrás do dinheiro, porque time is money – o tempo é dinheiro – e deter-se para dizer uma palavrinha, para conversar com um infeliz desses, para dizer simplesmente “boa tarde”, “que Nossa Senhora o ajude”, qualquer coisa assim, é uma gota de ouro porque é uma gota de tempo que se perde com esse homem… Então vamos para frente! Vamos para frente! É preciso correr!…

São duas concepções completamente diferentes.

• Os revolucionários, que deveriam detestar mais a atitude “hollywoodiana”, odeiam a cerimônia espanhola, por ser muito bela

Comentário: O curioso é que os revolucionários odeiam mais essa cerimônia do que odeiam a atitude “hollywoodiana”. Entretanto, essa atitude “hollywoodiana” é muito mais contrária ao igualitarismo revolucionário do que essa cerimônia aqui. Por que? A cerimônia aqui descrita é bela e o espírito revolucionário detesta o belo. Ela constitui um profundo, um espantoso, um até desconcertante ato de humildade, de tão profundo que é, de tão marcado que é. Mas é natural isto, pois se trata de imitar a Nosso Senhor, que deixou os seus próprios Apóstolos pasmos com o que Ele fazia. Eles aceitaram porque viram que Nosso Senhor estava impondo – com altíssimas finalidades que todo mundo conhece.

• É próprio da grandeza e do espírito cavalheiresco humilhar-se diante da dor e da desventura

Comentário: O ar de grandeza e de corte que eram empregados nessa cerimônia, visava precisamente fazer entender que, por maiores que fossem aqueles homens que iam lavar os pés dos mendigos, numa perspectiva do Evangelho e do exemplo dado por Nosso Senhor, eles – naquela grandeza, sem perder aquela grandeza, pelo contrário, revestidos dela – deveriam fazer atos de profunda humildade. Porque é próprio da grandeza humilhar-se diante da dor, humilhar-se diante da desventura. Isso faz parte do espírito cavalheiresco.

Desta maneira, a verdadeira tradição católica estabelece um equilíbrio, que é difícil de imaginar como fruto fora da Civilização Católica.

 

• Terminado o ato de humildade, as coisas voltam ao seu natural: o Rei e a Rainha lavam as mãos em vasos de ouro

Enquanto o Rei lava os pés dos anciãos, a Rainha lava de modo análogo os das anciãs. Demora mais porque, depois de cada lavapés, precisa levantar-se e voltar a ajoelhar-se, dado que seu longo vestido torna impossível o procedimento mais expedito do Rei. Este, ao terminar, a fica esperando no centro do salão, ante o altar. Ao cabo de certo tempo, a Rainha se aproxima dele, acompanhada do grande camarista que leva seu longo manto azul celeste forrado com um tecido de fios de ouro e bordejado de zibelina.

São trazidos os pequenos vasos de ouro, e os Soberanos lavam as mãos, sendo atendida a Rainha pela Duquesa de San Carlos, e o Rei pelo Duque de Miranda.

Comentário: Vejam que coisa bonita: depois de terem lavado os pés dos mendigos, eles lavam as mãos – é natural –, mas em vasos de ouro. Porque a realeza é a realeza.

• Grandes de Espanha acompanham os mendigos até a mesa de refeição

Enquanto isto, cada dama e cada Grande (de Espanha) acompanha cerimoniosamente a seu ancião ou anciã até deixá-lo em um assento da longa mesa preparada de antemão.

Comentário: É uma mesa para refeição. Considerem a beleza da cena. Então, para levar esses pobres para a mesa preparada para eles, há um Grande ou uma Grande de Espanha para acompanhar.

Observem que vários eram até cegos, tinham necessidade, portanto, desse acompanhamento. Mas então é o Grande de Espanha que serve de guia para o pequeno, e vão juntos até à mesa do banquete…

• A refeição é servida pelo Rei, aos homens, e pela Rainha, às mulheres

O Rei se dirige à dos homens, e a Rainha à das mulheres.

Os grandes camaristas oferecem os pratos aos Soberanos, que os colocam ante os hóspedes.

O Rei começa por servir de copeiro, pondo os pratos diante dos mendigos.

Em seguida, o Rei volta à cabeceira da mesa e, a partir dali, vai recolhendo, um por um, os pratos, que entrega ao grande camarista, o qual os faz passar, de mão em mão, até fora do salão. Desta maneira, os oito ou nove pratos são rapidamente servidos. O primeiro é uma “tortilla” espanhola de cebola e batata, apetitosa e nutritiva.

Vem a seguir dois ou três pratos de peixe (pois é vigília). Depois um “quezo de bola” inteiro. (…) Serve-se depois aos anciãos um pequeno barril de azeitonas, grandes quantidades de ameixas, pêssegos em compota e, por fim, algo que parece uma torta de arroz. (…)

No fim, são tirados os jarros, cada um dos quais contém dois litros de vinho, e as travessas de pão, bem como os copos e os saleiros, porque toda a comida, toda a baixela, os jarros, os saleiros, etc., são dados de presente aos anciãos, que os levam consigo, conservando-os como valiosas lembranças, enquanto os alimentos manterão às suas respectivas famílias durante uma semana ou mais.

• Copeiro eficaz e amável, Sua Majestade Católica, o Rei de todas as Espanhas!

Então o Rei, com um grande movimento de braço, tira a toalha da mesa e a passa ao grande camarista. Sua tarefa está concluída, e foi feita com eficácia e amabilidade, como quase tudo o que é empreendido por Dom Alfonso.

Eficácia e amabilidade. Copeiro eficaz e amável, Sua Majestade Católica, o Rei de todas as Espanhas…

À maneira tão sua e inigualável, fez sentir a todos naquele grande salão não só que estão em sua casa, mas, além disso, que tomaram parte pessoalmente em todos os acontecimentos da incomparável cerimônia. É o Rei das Espanhas atuando com perfeição, como representante de todos os católicos do mundo, pondo diante deles, uma vez por ano, nesta pictórica cerimônia secular, o alto ideal de humildade e serviço.

Comentário: No caso concreto, é uma cerimônia tão bonita que valeira a pena ser retratada.

• O Rei e a Rainha se despedem com reverências: é a afabilidade dos que têm uma alta categoria

Sem embargo, o homem nunca se perde no Soberano, e Alfonso de Borbón y Habsburgo, que sempre sabe dar esse toque mágico que humaniza todos os deveres e todas as relações da vida…

Comentário: Recordem a alocução de Pio XII a respeito do modo nobre de fazer as coisas e a questão do tipo humano.

…cumula toda a assembléia de uma sensibilidade ardorosa e compreensiva.

O Rei lava as mãos novamente, volta para o altar, toma seu sabre, suas luvas, seu capacete, e espera a Rainha. (…)

A magnífica procissão volta a formar-se e sai, tendo, ao fim, os soberanos. Ao deixar o salão, o Rei se inclina, e a Rainha faz profundas reverências à tribuna do Governo, à régia e à diplomática. O grupo real deixa então seus assentos, inclinando-se à diReita e à esquerda.

Comentário: É outro aspecto a ser registrado: o Rei e a Rainha se inclinam diante de pessoas menores do que eles – os diplomatas etc. são muito menos do que eles. É a afabilidade dos grandes, a afabilidade dos que têm uma alta categoria. O que se encaixa dentro de muitos dos textos de Pio XII e que se encontram no livro Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao patriciado e à nobreza romana.

Acompanham-nos os diplomatas, os Ministros da Coroa e o público em geral… Terminou o Lavapés.

• No extremo oposto à cerimônia espanhola está o igualitarismo “hollywoodiano”

Comentário: No extremo oposto os têm a cerimônia de posse de um Presidente dos Estados Unidos (ver, por exemplo, a descrição feita no artigo As cerimônias da posse de Eisenhower à luz da doutrina católica, “Catolicismo”, N° 27, março de 1953).

• Afonso XIII, o arquétipo do homem fino

Comentário: Faltava alguma coisa a Afonso XIII? Ele era o arquétipo do homem fino, do homem aristocrático. Era esguio, alto, magro. Não um homem assim pré-tuberculoso, nada disso, um homem forte. Muito esguio, muito magro, muito elegante, usando um bigodinho, penteado e arranjado com a última delicadeza, asseio naturalmente em toda a sua pessoa. Modelo de elegância, quer quando usava uniforme, quer quando portava roupa civil comum.

Nas ruas de Paris – ele ia muito à França –, era muito aclamado pelo tipo humano que representava. Na capital da república francesa, na cidade onde Luís XVI e Maria Antonieta haviam sido decapitados, ele, que se chamava Afonso de Bourbon e Habsburg – Bourbon por causa do pai; Habsburg por parte de mãe –, era aclamado pelas multidões.

• A corajosa atitude de Afonso XIII, no atentado à carruagem real, instantes após seu casamento

Comentário: Faltava alguma coisa a ele? Sim, e isto não está negado nas alocuções de Pio XII… Afonso XIII foi um homem de coragem?

Ele só correu risco pessoal numa ocasião de sua vida. Foi por ocasião de seu casamento com a Rainha Vitória Eugênia de Battenberg. Os Battenberg constituíam uma pequena Casa principesca alemã que a Rainha Vitória da Inglaterra apoiava muito. A Inglaterra nesse tempo intervinha nas coisas portuguesas e espanholas de um modo desagradável.

Houve a cerimônia do casamento real e a carruagem dourada em que estavam ele e com a esposa, voltava da Igreja, quando na proximidade do palácio real houve um atentado anarquista, tendo sido lançada uma bomba de dinamite que matou algumas pessoas, mas que de fato era destinada a matar o Rei e a Rainha.

No meio do estampido todo, com a surpresa e a indignação que o fato causou à população, ele imediatamente pulou do carro, tirou o quepe e, com o perigo de ser alvejado de novo, bradou: “Arriba España!” Para dar a entender que ele não se dobrava, que não tinha medo e que ele ia para frente.

• Faltava a Alfonso XIII o pulso firme, próprio do tipo humano do Rei

Este seu gesto é muito bonito, mas não basta. Era preciso que o povo sentisse nas suas ações subsequentes, que ele agiria – por meio de uma pena, que poderia inclusive ser a pena de morte – contra o crime que se cometera.

Esse lado punitivo contra o crime, contra a injustiça, junto com a prática da verdadeira humildade, constitui o tipo humano do nobre, do tipo humano do Rei, que é o nobre dos nobres.

Eu fixo o que disse: eu quis mostrar o que faltava ao tipo humano de Afonso XIII. Seu tipo humano tinha muito de perfeito, de admirável, de extraordinário, mas faltava aquele pulso.

(Comentários do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para sócios e cooperadores da TFP em 25/11/92)

 

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Soyecourt         

 

           “A 24 de julho de 1784 recebia o véu no Carmelo Mademoiselle Camille de Soyecourt [1757-1849], filha da mais alta nobreza da França. Jovem, entretanto, tão franzina e sofrendo, segundo os médicos, de uma moléstia incurável do coração, que todos julgavam não poder permanecer mais que seis meses no convento. Contudo, ela não somente sobreviveu muitos anos, como sem dúvida sua personalidade teve destaque notável, embora desconhecido, na preservação do Carmelo de Paris durante a Revolução.
          Em 1792, seu convento foi invadido e as religiosas dispersas. Irmã Camille, liderando um grupo delas, instalou-se numa casa firmemente decidida a manter vivo o espírito carmelitano. Denunciada, a pequena comunidade foi presa. Quando obteve a liberdade. Mademoiselle de Soyecourt refugiou-se em casa de sua família, mas por pouco tempo, pois seus pais e duas irmãs foram encarcerados. Após numerosas peripécias, empregou-se numa fazenda. Durante todo esse tempo não deixou de cumprir o mais rigorosamente que pôde os preceitos do Carmelo: jejuava, recitava o Ofício nas horas devidas e confessava-se, com grande dificuldade, semanalmente, com um padre refratário [Nota: que recusou aceitar a Constituição civil do clero, imposta pelos revolucionários]. Um dia teve a notícia da condenação de seus familiares, todos guilhotinados. Soube então que sua irmã deixara um filho, pequeno ainda.
          Apesar de sua dolorosa situação, Irmã Camille, até a morte foi tutora do sobrinho. Expulsa da fazenda onde trabalhava, pois a morte de seus pais traiu sua pessoa, a religiosa mendigou algum tempo. Tendo encontrado uma irmã de seu convento, decidiu restabelecer sua Ordem. Com o dinheiro das esmolas e com o auxílio de padres refratários, obteve a capela de um seminário, recomeçando os ofícios religiosos. Terminado o Terror; Mademoiselle de Soyecourt, então uma figura alta, pálida, grave e suave, decidiu re-obter para seu sobrinho e para seu convento, a fortuna de seus pais. Causava espanto aos notários e homens da lei, a presença dessa mulher paupérrima, falando de milhões, de venda de terras e de compra de imóveis. Mas conseguindo integralmente o que desejava, a religiosa chamou para junto de si as suas irmãs, dispersas.
          E no convento carmelita de Paris reinstalou sua comunidade. Aí ela viveu mais de 45 anos, não sem problemas. Por exemplo, em janeiro de 1811 Fouché [1759-1820, em sua juventude ingressou no seminário onde se ordenou religioso da ordem dos Oratorianos; após dez anos abandona seu cargo de professor no seminário para entrar em política; exerceu seu poder durante a Revolução Francesa e o império napoleônico; foi o fundador das modernas polícias políticas e de suas espionagens] foi informado de que uma senhora carmelita, superiora do Carmelo ocupava-se ativamente em copiar e distribuir a Bula de excomunhão… do próprio imperador. Foi por isso presa num lugar bem distante do convento, o que não a impedia de atender sua comunidade, fazendo-lhe visitas inteiramente disfarçada, e passando, desse modo, diante dos guardas, com toda segurança. A Restauração tirou-a desse exílio. Quando suas dificuldades morais pareceram diminuir, começaram, as físicas. Seu corpo tornara-se quase diáfano, por causa dos jejuns e penitências. Aos 85 anos, ainda dormia sobre uma tábua, apesar da gota dolorosíssima e de dores de estômago que não lhe permitiam repousar. Ela manteve, entretanto, como sempre em sua vida, inalterável bom humor e sua proverbial intrepidez. Repleta de dores, veio a falecer, em 1849, aos 92 anos de idade”.
(G. Lenotre, “Vieilles maisons, vieux papiers”, 2ème série, Perrin, Le roman d’une carmélite, pags. 343-359:)

 

Comentários do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para sócios e cooperadores da TFP, em 17.2.1970:

Os senhores tem ouvido falar a respeito do “rio chinês” [expressão utilizada para significar um itinerário cheio de voltas, de dobras e de surpresas, como seria o de algum caprichoso rio chinês]. Eu queria que os senhores se colocassem nessa biografia, não na posição de um mero leitor, mas de quem a viveu. Porque são coisas muito diferentes a gente ler agora essa vida, acabar e dizer: “que grande mulher foi a mademoiselle Camille de Soyecourt!” Outra coisa é a gente se imaginar dentro de sua pele.
A gente vê, então, tudo quanto foi acontecendo para ela, como sendo uma coisa com uma vocação definida, um objetivo muito definido, ela adentrou esse objetivo com todo o empenho de sua alma. Quando os senhores vão ver o curso da vida, dão se conta de que foi tipicamente do “rio chinês”. Quer dizer, ela ser carmelita, entra no Carmelo, forma-se. Ela poderia esperar, por exemplo, uma vida como a de Santa Teresa, a Grande, ou então uma vida de Santa Teresinha. Ou seja, uma vida inteira transcorrida no Carmelo, com essas ou aquelas dificuldades, mas dentro da vida carmelitana. Com certeza ela tinha tido mil apetências, sugeridas pelas graça, para isso.
E o que acontece? Em vez de ela ter essa vida, vem a Revolução Francesa e vai para o cárcere. Vamos dizer quer tenha pensado em martírio: “Vou dar a minha vida, vou ficar uma santa. Está bem, aceito com todo gosto!” Conformidade. Foi posta em liberdade. Posta em liberdade esperava viver, ao menos sozinha, para Deus, mas se transforma em chefe de família, apesar de solteira. E fica tutora de um “bambino” [seu sobrinho] que tem que criar, formar etc., etc. Era uma moça rica e perde a fortuna. Os pais vão para a guilhotina, e ela se torna criada numa fazenda, ou seja trabalhadora manual.
Então, ela tinha dado sua vida, que começa nascendo nobre, acaba em religiosa e depois desfecha em ser trabalhadora manual em fazenda. Nada exclui – a biografia aqui não entra nesses pormenores – que tenha tido que limpar estábulos, limpar vacas e fazer outras coisas ultra prosaicas desse gênero, quando não era fazer serviço prosaico para os donos da fazenda, talvez coisa pior do que tratar das vacas. Ela toca para frente. É posta fora desse emprego e se torna mendiga. Mendiga com o menino.
Começa a mendigar de um lugar para outro. De repente a Revolução Francesa passa e ela se transforma em mulher de negócios. E começa a visitar cartórios para recompor a fortuna a que tinha direito…
Os senhores estão vendo como tudo isso é completamente contrário ao que ela quer. Mas ela continua sempre com o mesmo objetivo: ser carmelita! A tal ponto que reconstitui o Carmelo. Reconstituído o Carmelo, nele entra para lá recomeçar a vida normal de carmelita… Prisão! Prisão até o tempo dos Bourbons. Prisão longe, uma espécie de exílio, uma coisa assim. Novamente sua vida de carmelita se interrompe. Afinal volta para o Carmelo, porque voltam os Bourbons, que restabelecem a ordem de coisas normal. Volta para o Carmelo.
Dir-se-ia então que ia levar uma vida tranqüila como carmelita que, afinal, está no seu convento e começa a rezar. Mas inicia outro gênero de provação. Dir-se-ia: “Bem, coitada, é a fase final. Agora então vai morrer daqui a pouco e vai repousar em Deus”… Não senhor! Nada de repousar em Deus. Lutar na terra até o último alento! Então fica vivendo até os noventa e tantos anos, sempre praticando penitência, modelo de religiosa, agüentando as doenças nas costas, e afinal de contas morre numa idade que, com certeza, nunca podia imaginar que ela atingisse depois de tantas doenças e outras provações.
Agora nós vamos perguntar, aos olhos do espírito moderno, como considerar isso: foi uma vida frustrada ou foi uma vida realizada? É a pergunta que a gente deve fazer. Para os homens de espírito moderno foi uma vida frustrada. Porque a vida realizada seria se ela tivesse entrado no convento e tivesse ficado religiosa direitinho até o fim. Como teve coisas que atrapalharam a vida dela e a obrigaram a ser uma porção de coisas que não queria, ela cem vezes durante a vida deveria ter se sentido frustrada, deveria ter abandonado a vocação. Afinal de contas quando veio, dentro da vocação, a doença, ela poderia ter dito: “Não tem mais solução! Deus me entregou! Porque agora que eu poderia levar a vida normal de uma carmelita, começo a levar uma vida de doente!…”
Nós, entretanto, dizemos que foi uma grande vida realizada. E é impossível os senhores terem ouvido essa ficha sem sentirem a maior admiração por ela.
Mas então perguntamos: o que é a realização? E é aqui que entra o choque do homem do mundo contra o espírito católico. Por que no que ela foi martirizada segundo o espírito da Igreja? No que, segundo o espírito do mundo, ela não foi realizada? Segundo o espírito do mundo, ela não foi realizada porque não levou a vida que quis, não realizou a obra que empreendeu. Em última análise, a noção de “realizado” segundo o mundo é ou a de um indivíduo que levou a vida que quis, ou de um indivíduo que ganhou muito dinheiro. Estão aqui os dois conceitos de homem realizado.

Ora, ela não ganhou muito dinheiro e não levou a vida que quis. Logo ela não foi realizada. Mas é impossível nós ouvirmos a leitura dessa ficha sem vermos que ela foi realizada. Então o que é, no sentido verdadeiro da palavra, a realização? A realização não é o que o mundo pensa, mas realização é algo diverso. A realização é – antes de tudo – realização de si mesma. Antes de tudo não digo no sentido supremo, mas no sentido mais imediato. É a realização de si próprio.
Em outros termos, a gente vê que ela realizou uma grande personalidade, foi uma pessoa de grande virtude e que no esplendor de sua virtude manifestou numerosas qualidades até naturais de que a Providência a tinha dotado. Quer dizer, ela tirou de si tudo quanto potencialmente tinha. Levou até à perfeição mil coisas que nela estavam potencialmente, como uma semente que deu inteiramente uma esplendida árvore. Então, o realizar-se – nesse sentido mais imediato da palavra – é o atingir a sua própria perfeição. Se fez o que quis ou não fez, não tem importância. A importância é ter chegado à sua própria perfeição. Isso sim! Essa é a primeira noção.
Segunda noção: vemos que ela realizou essa perfeição não através de uma série de fracassos que tenham ficado em fracasso. Mas vemos que sua vida tem uma continuidade. Essa continuidade, esse plano não era assim que ela queria, mas eram planos que Deus tinha a seu respeito. Ela fez a vontade de Deus!
Em que sentido se deve tomar essa afirmação? No seguinte sentido: quando acabamos de ler essa vida, vemos a grande obra dela para a glória de Deus entre os homens. E que não foi tanto de acabar fundando um convento – que é uma obra excelente – mas uma coisa muito maior do que fundar um convento: é ter deixado um grande exemplo! Ser um grande exemplo de perseverança, um grande exemplo de resolução, um grande exemplo de força de alma, de confiança na Providência Divina, de obediência aos desígnios de Deus nas circunstâncias mais adversas da vida. De maneira que enquanto sua memória for conhecida pelos homens, haverá homens fracos, em condições difíceis, que terão um alento maior parta enfrentar as dificuldades da vida, por causa de seu exemplo. E ela será a força dos fracos, será a luz daqueles que estiverem na incerteza, na penumbra, enquanto a memória dela se guardar entre os homens. Por que? Porque foi o grande exemplo que ela deixou. E deixar um grande exemplo é uma coisa muito maior do que fazer uma grande obra.
Um grande convento é uma coisa esplendida. Mas se um grande convento não fosse um grande exemplo, não adiantava de nada. Quer dizer, abaixo do culto a Deus, a melhor coisa que podemos fazer é edificar por nosso exemplo. As nossas palavras e as nossas ações vêem abaixo do exemplo. As palavras movem, o exemplo arrasta. Ela deixou um exemplo de força de alma! Tanto mais que a gente percebe em sua biografia que através de todas as incertezas de sua vida ela foi sempre forte. Nunca ela se sentiu quebrada, sempre caminhou para a frente cumprindo o dever de acordo com o que queria a Providência, sem perder a unidade do que estava fazendo. Mas entendendo que realizando o dever do momento, ela fazia a vontade de Deus.
No Céu, ela está vendo essa unidade que Deus quis e talvez não tivesse calculado que o exemplo dela irradiasse tanto, que pudesse ser tão conhecido. É uma pessoa extraordinária, que talvez ainda venha a ser canonizada. Isso é a vida de uma pessoa que cegamente vai seguindo diante das dificuldades, e fazendo, e agindo e não se incomodando. No fim vem a glória, a glória de ter dado um bom exemplo obedecendo a Deus. Parece-me que essa é a grande lição que a ficha do “Santo do Dia” de hoje nos ensina.

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Kazimierz_Wielki_by_Bacciarelli

Esse jovem Príncipe polonês tornou-se um exemplo de cavaleiro cristão,
modelo de castidade e baluarte da Igreja contra o cisma russo e a heresia protestante

Detentor de merecidos títulos de grandeza terrena como Príncipe da Polônia e Rei natural da Hungria, São Casimiro foi, entretanto, maior ainda por sua inteira submissão à vontade de Deus. Seguindo as pegadas de Nosso Senhor Jesus Cristo, procurou moldar sua alma segundo a fisionomia moral do Divino Redentor, tornando-se o primeiro santo jovem leigo da era dita moderna.

Foi ele o segundo dos 13 filhos que teve Casimiro IV (1427-1492), Duque da Lituânia e Rei da Polônia, com a Princesa austríaca Elisabeth de Habsburgo, filha de Alberto II, Imperador do Sacro Império Romano Alemão. Casimiro nasceu em 3 de outubro de 1458, no castelo de Wawel, em Cracóvia.

Para a educação de seus filhos, Casimiro IV nomeou o polonês João Dlugosz (1415-1480), Cônego de Cracóvia, que se distingüia por grande saber e provada virtude.

Era costume na época colocar os príncipes sob a influência de professores filiados a correntes renascentistas. Por isso o jovem Príncipe Casimiro, que teve como mestre o italiano Filippo Bonaccorsi, cognominado Calímaco, o qual ensinou-lhe latim e retórica. Esse mestre passou a chamar o discípulo jovem divinizado, por causa de suas virtudes.

Visando sujeitar seu corpo às leis do espírito, Casimiro utilizava-se do cilício e da disciplina, jejuava e dormia em dura terra, em meio ao ambiente de frivolidade que as cortes renascentistas criavam. Com isso sua alma desprendia-se dos prazeres fáceis da vida mundana, evolando para celestes grandezas da perfeição cristã.

Contemplação dos mistérios da Paixão: fonte de fortaleza
A paz interior de sua alma manifestava-se na louçania e serenidade do seu semblante, afeito à contemplação. Mesmo com as ocupações inerentes ao seu alto cargo, não se esquecia que, além dos deveres de estado, mais ainda devia zelar pela honra do Divino Salvador, que padeceu cruéis sofrimentos por amor aos homens.

Sua alegria consistia em estar junto ao Sacrário para adorar Aquele que é o Soberano absoluto de todos os corações, tanto dos reis quanto dos súditos. Por isso, entrando nas igrejas, ajoelhava-se diante de Jesus Sacramentado, esquecendo-se de tudo quanto era terreno. Passava aí muitas horas da noite na contemplação dos mistérios da Paixão. Muitas vezes, não continha as lágrimas ao contemplar o Divino Crucificado, considerando as ofensas por Ele suportadas, ao mesmo tempo em que ardia em desejos de repará-las. Seu rosto ficava então inundado por uma luz sobrenatural.

Tinha muita caridade para com os necessitados de qualquer espécie: amparava os fracos, encorajava os oprimidos e levava o bálsamo de uma palavra cheia de afeto aos prisioneiros, enfermos e angustiados.

Se assim procedia em relação aos desvalidos, seu trato na Corte era igualmente exímio. Tinha tal aptidão para os estudos, que, aos 13 anos, proferiu primoroso discurso em latim, saudando o Legado Pontifício. Dois anos depois, com mesmo talento, homenageou o embaixador veneziano.

Baluarte contra o cisma russo e a heresia protestante
A pedido de seus partidários húngaros, esse casto e valente Príncipe, com apenas 13 anos de idade, em 2 de outubro de 1471 precisou armar-se como um verdadeiro guerreiro para conquistar a coroa de Santo Estêvão, à frente de um exército de 12 mil homens. Não lhe faltavam, por parte de sua mãe, os títulos dinásticos para depor o então Rei da Hungria.

Do trono de São Pedro, Sixto IV, vendo que o perigo turco ameaçava a Cristandade européia, interveio no sentido de serenar os ânimos, evitando assim a dispersão das forças cristãs em lutas intestinas.

Mesmo tendo se submetido ao apelo do Papa, São Casimiro conservou o título de “senhor natural por direito de nascimento do reino de Hungria”.

Em suas terras, lutou valentemente para que a verdadeira Igreja fosse favorecida. Atacou duramente as heresias e os movimentos subversivos da época, tendo mesmo estabelecido um pacto de defesa antiturca com os Estados italianos.

Após a morte de Sixto IV, São Casimiro tornou-se inquebrantável escudo da verdadeira ortodoxia contra as heresias provindas da pseudo-reforma protestante e dos erros da igreja cismática russa. Acompanhou sempre seu pai na administração do reino bem como nas viagens que este empreendeu a reinos vizinhos. Por saber o latim, seu pai o utilizou em Danzig como intérprete no encontro que manteve com o Rei sueco Cristiano.

Aquela foi uma época em que se verificavam muitos confrontos do Rei polonês com os senhores feudais revoltados. Além disso, ferrenhos combates foram travados com os Cavaleiros da Ordem Teutônica, já em franca decadência, que foram obrigados a assinar um tratado de paz com o Reino polonês, mediante o qual cederam a este a Prússia Ocidental.

Fiel ao voto de castidade, não temeu a morte
Em 1483 ocupou-se da administração dos Ducados da Lituânia, preocupando-se sempre com o bem dos súditos.

Nessa ocasião que seu pai manifestou-lhe o desejo de que ele se casasse com a filha do Imperador alemão Frederico III. Tendo São Casimiro contraído tuberculose, os médicos julgavam que o casamento o curaria, pois acreditavam que a vida austera do jovem Príncipe era a causa da doença. Singular constatação! São Casimiro, porém, preferiu permanecer fiel a seu voto de castidade perfeita.

A tuberculose na época era uma doença incurável. Assim a moléstia agravou-se rapidamente e sua morte não tardou. Com os olhos postos numa imagem do Crucificado e invocando Maria Santíssima, ele a enfrentou com a serenidade de alma própria aos santos.

Recebeu com devoção os santos sacramentos, e em 4 de março de 1484 entregou sua alma ao Criador. Suas últimas palavras, depois de oscular com amor o crucifixo, foram: “Em vossas mãos, ó Jesus, entrego o meu espírito”. Sua alma, segundo testemunhas, subiu ao Céu em meio a grande luminosidade.

Corpo incorrupto e perfume: imagens de castidade perfeita
A morte o colheu aos 25 anos, em Gardinas, mas seu corpo foi enterrado na catedral de Vilnius, capital da Lituânia, na capela dedicada a Nossa Senhora.

O primeiro biógrafo do santo foi Zacarias Ferreri, enviado à Polônia a mando do Papa Leão X, para coletar dados sobre a vida de Casimiro, cuja santidade já era conhecida e confirmada por muitos milagres. Entre estes, destacam-se a cura de doentes incuráveis e a ressurreição de uma menina, natural de Vilnius.

O mesmo Papa Leão X canonizou São Casimiro em 1521.

Em 6 de agosto de 1604 — para gáudio e edificação dos fiéis católicos e glória de São Casimiro — sua sepultura foi aberta na presença de várias testemunhas. Devido a um milagre, seu corpo encontrava-se inteiramente incorrupto. As roupas também estavam intactas, apesar da umidade existente. Como admirável símbolo de sua castidade, o corpo exalava um agradável perfume. Encontrou-se também em seu peito o hino Omni die dic Mariae laudes animae [Minha alma, cada dia, dirija um canto a Maria], um dos mais belos cânticos da Idade Média, dedicado à Virgem Santíssima (Acta Sanctorum, Martii I, Parisiis, 1865).

Seu nome é glorificado no calendário litúrgico em 4 de março, quando, segundo velho costume, milhares de fiéis vão venerar suas preciosas relíquias em Vilnius.

Em 1943 o Papa Pio XII proclamou São Casimiro Patrono principal da juventude lituana em qualquer parte do mundo. É também Padroeiro da Polônia.

Admirável na Terra, mais ainda no Céu
São famosas, ainda, as aparições de São Casimiro.

A primeira deu-se no ano de 1518 quando um grande exército moscovita estava prestes a dominar a cidade de Polotsk, baluarte na defesa da Lituânia, situada na confluência dos rios Dauguva e Palata. O fogoso exército lituano, composto de dois mil homens partiu intrépido para socorrê-la.

Entretanto o transbordamento do rio Dauguva impedia que eles alcançassem o inimigo, postado à outra margem. O que fazer? Enquanto estavam nesse impasse, os lituanos viram surgir um jovem cavaleiro montado em corcel branco, convidando-os a segui-lo rumo à outra margem.

Impelidos pelo entusiasmo, os lituanos seguiram o valente cavaleiro, e atravessando o rio num lugar propício atacaram os moscovitas, alcançando brilhante vitória. O cavaleiro da veste alva desapareceu como por encanto. Mas todos reconheceram nele São Casimiro, seu protetor.

Outra aparição ocorreu em 1654 ao comandante russo Sermetjev, que ocupara a cidade de Polotsk e transformara a igreja em estábulo. O Santo apareceu-lhe, increpando-o de tentar a Deus, que o puniria de modo exemplar.

As aparições de São Casimiro tornaram-se um símbolo da luta contra Moscou e a propagação da igreja cismática russa. Por esse motivo a Rússia czarista votava um ódio implacável ao Santo, cerceando-lhe o culto de todos os modos.

Uma frase em latim, alusiva a São Casimiro bem sintetiza a extraordinária vida do jovem Príncipe polonês neste mundo e sua gloriosa atuação após ter alcançado a bem-aventurança eterna: “Casimiro, admirável na Terra, mais admirável ainda no Céu”.

 

(Revista CATOLICISMO – março/1998 – www.catolicismo.com.br)

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Chateau de Chimay 04d

 

Uma equipe da Globo Rural foi até a Bélgica para contar a história de um queijo delicioso, produzido por monges de uma abadia gótica que também fabrica cervejas.

O mosteiro de Scourmont fica em Chimay, no sul do país, uma cidadezinha tranquila com ruas estreitas e fachadas antigas.

E um imponente castelo: o dos Príncipes de Chimay, uma das mais nobres famílias belgas.

No Castelo dos Príncipes, no centro da cidade, mora a simpática princesa Elisabeth de Chimay.

Ela contou que alguns aposentos do castelo têm quase 800 anos de idade.

Sua capela abrigou em 1449 o famoso Santo Sudário hoje em Turim. O Teatro dos Príncipes ainda hoje acolhe concertos de música clássica.
“Naquela época, o dono do castelo era conhecido como o Grande Príncipe. Pois bem, esse príncipe, que era antepassado do meu marido, resolveu convidar alguns monges do norte da Bélgica para fundar uma abadia.

Para isso, doou algumas terras aos religiosos, que começaram a levantar o novo mosteiro. Uma vez instalados, os monges passaram a fazer os seus produtos caseiros, que há séculos garantem a prosperidade da região” – explicou a princesa.

Com o estímulo e a proteção da nobreza começou a história da abadia trapista de Notre-Dame de Scourmont, em Chimay.

“Os monges tinham alimentação fraca e trabalhavam muito. Então, era preciso reforçar as refeições com produtos mais nutritivos.
Foi aí que surgiu a ideia de fabricar queijos e cervejas. Tudo era feito para o nosso próprio consumo, para compensar o esforço físico e fortalecer os músculos”, respondeu o Père Omère (Padre Homero).

Os monges antigos levavam a sério a Regra, que incluía muito jejum e abstinência de carne. No inverno e nas épocas como as da colheita – os monges viviam de seu trabalho – a observância era exemplar. Era preciso reforçar a alimentação com alimentos que não violassem a Regra.

Os queijos e as cervejas dos monges eram tão saborosos que logo atraíram a atenção de pessoas de fora. Aos poucos, a fabricação artesanal foi dando lugar a uma atividade comercial. Mas não perdeu a identidade trapista.

Hoje em dia, os monges contam com equipamentos modernos e funcionários treinados.

A abadia fabrica três cervejas com cores e sabores diferentes. Todas são encorpadas, cremosas, levemente amargas e com teor alcoólico que varia de 7% a 9%.

A fabricação de queijos da abadia atravessou os séculos e permanece viva, como um dos símbolos da região, diz a reportagem da Globo Rural.

Na base desse trabalho estão centenas de sítios e de famílias do campo. Gente que mora no entorno de abadia e que ganha a vida produzindo leite.

No começo dos anos 80, os monges de Scourmont resolveram construir um novo laticínio da abadia. O objetivo era melhorar o controle sanitário, adotar métodos mais modernos e aumentar o volume de produção. Tudo isso respeitando a história e a tradição do queijo local.

Um dos cinco queijos fabricados no laticínio é reforçado com um ingrediente especial: a cerveja de Chimay.

Na etapa final, os queijos são levados para as caves. São salas que têm temperatura e umidade controladas. Os produtos ficam em prateleiras de quatro semanas a oito meses, segundo o tipo.

O laticínio da abadia vende cerca de mil toneladas de queijo por ano. Metade fica na Bélgica e metade é exportada, principalmente para a França, o Japão e os Estados Unidos.

Alain Hotelet, responsável comercial, explicou o sabor do queijo: “Este é o queijo clássico, que foi o primeiro a ser fabricado pelos monges. Ele é muito suave e, por isso, apreciado por um público amplo. Já o segundo tipo, o grand cru, leva mais tempo na maturação. É um queijo com aroma mais marcante e um gosto mais forte”.

Mais alto e alaranjado, o vieux chimay chega a ficar oito meses nas caves. É um queijo seco e ótimo para ser consumido em cubos, como aperitivo.

É um produto para quem gosta de queijos com personalidade. Bronzeado e mais robusto, o queijo na cerveja é o mais famoso e o mais vendido pelo laticínio. Os preços são moderados.

A reportagem acaba apresentando um modelo de integração harmônica do castelo, da abadia e da produção agrícola com a natureza. Essa foi uma das notas características da sociedade orgânica medieval.

Sem dúvida, o modelo medieval está nas antípodas das planificações esdrúxulas do ambientalismo dirigista hodierno, que manifesta entender pouco ou nada da natureza e muito do utopismo comuno-tribalista.

(gloriadaidademedia.blogspot.com.br)

 

 

 

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